Lisboa, cidade de loureiros

Sabia que o cheiro e as formas do loureiro, uma das primeiras árvores avistadas por aqueles que atracavam no porto de Lisboa, inspiraram viajantes do século XIX e inícios do século XX? Nesse tempo, houve quem a contrastasse com a poluída e industrial capital britânica.

O loureiro seria uma das primeiras visões do viajante que chegava a Lisboa de barco. Aparece tanto na descrição do francês Ferdinand Denis, em 1846, como da inglesa Lady Inchbold, em 1907. Pode-se dizer que faz parte da paisagem e do imaginário ecológicos da capital na escrita de viagens europeia, sublinha Rogério Miguel Puga, investigador em Línguas, Literaturas e Culturas da NOVA FCSH, num artigo publicado no n.º 21 da Revista de Estudos Anglo Portugueses (2012, pp. 225-243).

Contudo, ninguém como Lady Alice Lowther levou tão longe essa visão. Em 1939, esta viajante inglesa publica, em Londres, o relato da sua visita a Portugal, que designa como “terra de loureiros”. O livro Moments in Portugal or Land of the Laurel é composto por excertos do diário da viagem que fez pelo continente em 1936, após ter visitado a Madeira.

Foi dois meses antes do início da Guerra Civil de Espanha, um episódio bélico que faria encurtar a estada de Alice Lowther. Mesmo assim, a viajante demorou-se por castelos, mosteiros e paisagens, ao contrário das rápidas visitas de passagem de alguns dos seus conterrâneos. Para a autora, as folhas do loureiro remetem para as paisagens natural (flora) e olfativa lusas, bem como para a sua gastronomia, destaca o investigador.

Nas páginas sobre Lisboa, a narrativa capta e descreve paisagens ecológicas, sonoras e visuais da capital portuguesa, combinando-as com outras descrições. A aristocrata inglesa alude à paisagem cultural e mítica da urbe ao referir a sua fundação por Ulisses. Como sublinha nessas páginas, as descrições que lera e ouvira do estuário do Tejo fazem-na dar asas à imaginação, impossibilitando-a de abandonar essas imagens mentais anteriores e de observar a realidade de forma objectiva.

Lisboa é, assim, um espaço idealizado, que a diarista descreve por comparação à Londres dos anos trinta, metrópole industrial na qual os automóveis e os autocarros tomavam rapidamente o lugar das carruagens.

Escreve nesse relato: ao chegar, por mar, a um porto “estranho”, o cenário parece ter sido esmagado, as montanhas reduzem-se e as colinas e os rios aparentam fugir. Para Alice Lowther, trata-se de uma questão de perspectiva e de posicionamento do observador, sobretudo enquanto os viajantes percorrem o rio até chegar à pacífica cidade-bela adormecida, onde a industrialização não se faz ainda sentir.

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