Real Coliseu de Lisboa, na Rua da Palma nos primeiros anos do século XX. Fotografia de Alberto Lima (Arquivo Fotográfico de Lisboa).

Cinema em Lisboa: primeiro foi no “teatro-circo”

A relação das salas de cinema com a natureza das artes nem sempre foi tão clara como agora. As primeiras projeções cinematográficas em Lisboa foram feitas em recintos que tanto acolhiam peças de teatro como espetáculos de circo.

Os “teatros-circo” eram recintos na maioria improvisados e temporários que se adaptavam às necessidades dos diferentes programas e públicos. A própria estreia do cinema em Lisboa foi feita num teatro-circo – o Real Coliseu de Lisboa. Esta realidade de finais do século XIX representava a ausência de uma ação concertada do que se queria fazer em relação às artes e a forma como o público – que preferia o circo ao teatro – olhava para os locais de divertimento, afirma Margarida Acciaiuoli, investigadora da NOVA FCSH, no livro “Cinemas de Lisboa – Um Fenómeno Urbano do Século XX” (2012, Bizâncio).

Antes de o cinema se sedentarizar em salas próprias para o efeito, passou pelo Coliseu dos Recreios, inagurado em 1890, e em barracas de feiras, de construção rudimentar, que concorriam com as salas do centro lisboeta no acolhimento de peças de teatro, espetáculos de variedades e cinema. Em 1898, na Feira do Campo Grande, surge o primeiro animatógrafo, com uma fita sobre a fauna marítima, intitulada A Pesca da Sardinha. Na Feira de Alcântara, as projeções eram acompanhadas por animação musical. Na Feira da Avenida, as fitas eram projetadas numa barraca chamada Salão Ideal, filial do salão que tinha sido inaugurada em 1904 na Rua do Loreto.

Só nos primeiros anos do século XX é que o cinema se mudou das feiras para estruturas pré-existentes na cidade: os salões de cinema. Em 1898, na Avenida da Liberdade, um pouco acima da Rua das Pretas, abre o Salão Avenida, uma iniciativa de Manuel Costa Veiga, com o propósito de exibir “fitas de qualidade”. Seguem-se as inaugurações, nos primeiros anos de 1900, do Salão Foz, na Calçada da Glória, do Salão Central, na Praça dos Restauradores, do Salão Chiado, na Rua Nova do Almada, e do Salão Ideal, entre outros. O Animatógrafo do Rossio, na Rua dos Sapateiros, aberto ao público em 1907, o Chiado-Terrasse, na Rua António Maria Cardoso, e o Cinema Olympia, na Rua dos Condes, ambos inaugurados em 1911, tornam a zona da Baixa e do Chiado o centro do cinema e dos novos hábitos de consumo da população lisboeta.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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