Cinema em Lisboa: como tudo começou

Foi no dia 18 de junho de 1896, às 20h45, que o animatógrafo se estreou no Real Coliseu de Lisboa, na Rua da Palma. As atenções dividiram-se entre a “fotografia viva” e a “última maravilha da técnica”.

A reação foi de incredulidade. O aparelho, operado por Edwin Rousby, projetava “vistas animadas” – fitas de um minuto que captavam “cenas apanhadas do natural”, como Bailes Parisienses, A Ponte Nova em Paris ou Uma Loja de Barbeiro e Engraxador em Washington. O Theatrograph tinha sido produzido um ano antes pela firma britânica de Robert W. Paul, um eletricista e fabricante de instrumentos óticos.

Este era o primeiro invento que possibilitava a interação entre o espetador e o espetáculo através da sensação de movimento, relata Margarida Acciaiuoli, investigadora da NOVA FCSH, no livro “Cinemas de Lisboa – Um Fenómeno Urbano do Século XX” (2012, Bizâncio). Os jornais tentavam explicar o segredo do maquinismo que permitia tal façanha, mas sem sucesso. “Num pano em vez de um espelho, este engenhoso aparelho mostra a fotografia em movimento tal, reproduzindo as figuras, como vivas criaturas, mas isto ao natural”, relatava o Diário Ilustrado a 25 de junho desse ano de 1896.

O interesse do público lisboeta pelo cinema contribui para a sua rápida expansão: surgem novos operadores, novas máquinas e outras salas, como o São Luís e o Teatro D. Amélia, entram no circuito das projeções. Mais importante do que a técnica, o pública exige as tais vistas animadas. Queriam que fossem não sobre realidades distantes, mas sobre situações com as quais se poderiam identificar. Aparecem os primeiros “quadros” realizados por encomenda, registando-se imagens da capital, de tradições e de festas. A saída do pessoal operário da fábrica Confiança, A Feira do Gado na Corujeira, A Rua do Ouro ou A Avenida da Liberdade foram alguns dos primeiros filmes a retratar Lisboa em movimento.

Real Coliseu de Lisboa, na Rua da Palma nos primeiros anos do século XX. Fotografia de Alberto Lima (Arquivo Fotográfico de Lisboa).
Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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