Desconforto lisboeta é pintado de cor de rosa

De rosa só tem nome e chão. A Rua Nova do Carvalho, mais conhecida como a Rua Cor de Rosa, no Cais do Sodré, é um dos cartões de visita noturnos de Lisboa. Mas para os residentes, a realidade tem outra cor e é cinzenta: ruído e poluição nas ruas são o prato da noite. Investigadores da NOVA FCSH apontam soluções para estes problemas. 

“No centro da cidade de Lisboa, o direito ao lazer prevalece sobre o direito à cidade. Há uma necessidade urgente de repensar o papel da economia de lazer noturno no centro da cidade de Lisboa.” Assim escrevem Jordi Nofre, João C. Martins, investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas da NOVA FCSH (CICS.Nova), Domingos Vaz, Rosa Fina, Jorge Sequera e Patrícia Vale, de outros centros de investigação, a respeito da noite lisboeta, onde retratam, em particular, a Rua Cor de Rosa e a Praça de São Paulo neste artigo (2018) publicado no Journal Urban Research & Practice.

A rua mais movimentada de Lisboa é a Rua Cor de Rosa, fruto de uma ação de publicidade e marketing para o turismo lisboeta por parte da Câmara Municipal de Lisboa (CML), em 2011. Um dos exemplos que os investigadores apontam é a edição da Web Summit 2016, quando o espaço noturno escolhido para socializar e fazer contatos foi o Cais do Sodré. Esta ação afirmou, ainda mais, a Rua Cor de Rosa e o espaço envolvente como locais de diversão e paragem “obrigatória” na cidade.

Mas o que devia ser uma reestruturação mais eficiente para uma noite lisboeta mais agradável acabou por ter mais impactos negativos do que positivos, referem os investigadores. Devido à maior afluência de indivíduos, a realidade para os moradores começou a ser mais cinzenta. Durante o trabalho de campo que os investigadores realizaram nestas ruas entre outubro de 2015 e julho de 2017, várias foram as queixas dos residentes, entre elas a ineficácia do sistema de videovigilância implementado em 2017 e a pouca presença de patrulhas da Polícia de Segurança Pública (PSP) nestas ruas.

As reclamações dividem-se entre a Rua Cor de Rosa e a Praça São Paulo, apesar de esta última se apresentar como a “mais problemática”, apontam os investigadores. Durante o trabalho de campo, observou-se uma grande quantidade de lixo deixado nas ruas e garrafas partidas, em parte pela falta de cumprimento da legislação na venda de álcool para fora dos estabelecimentos. Os investigadores ainda observaram restos de comida espalhados pelo chão, urina e registaram níveis altos de ruído.

Para atenuar algumas destas consequências, a CML financiou um projeto comunitário denominado SAFE!N, que funcionou em parceria com diferentes agentes da zona, entre eles o movimento Aqui Mora Gente. O projeto decorreu entre 2015 e 2016 e mostrou-se ineficaz, pelo que os investigadores lançaram sugestões para a melhoria da qualidade da noite lisboeta.

Algumas propostas passam por consciencializar os turistas e os visitantes de Lisboa sobre os seus direitos, deveres, obrigações e comportamentos na noite lisboeta, com a distribuição de folhetos informativos pelo Instituto de Português do Turismo; instalar “janelas insonorizadas” nas casas dos residentes do bairro (“financiadas pela receita turística direta”); e implementar uma rede eficiente de transportes públicos noturnos, de maneira a reduzir os acidentes de viação por excesso de álcool.

Escrito por
Ana Sofia Paiva
Ver todos os artigos
Escrito por Ana Sofia Paiva

O PROJETO

Lisboa vista pela ciência [Saiba +]

Ficha técnica e contactos

Na redes

+ Comunicaçao de Ciência na NOVA FCSH

Unidades de Investigação da NOVA FCSH

Clique aqui para aceder às 16 unidades de investigação da NOVA FCSH.