Diário de Notícias: a monomania de Eduardo Coelho

Um homem (Eduardo Coelho) sonhou, outro (Tomás Quintino) financiou e o Diário de Notícias nasceu. Em 1864, o novo jornal instalava-se na rua do Bairro Alto que hoje leva o seu nome, mas os tempos de glória correspondem à mudança para a sede na Avenida da Liberdade.

O edifício do Diário de Notícias no topo da Avenida da Liberdade é Prémio Valmor e isso vai garantir a preservação da fachada e dos painéis de Almeida Negreiros, mas os jornalistas já lá não estão desde novembro de 2016.

Agora que o centenário Diário de Notícias abandonou a sua magnífica sede, um edifício modernista de Pardal Monteiro, inaugurado em 1940 e Prémio Valmor do mesmo ano, com direito a fita cortada pelo então presidente da República, Óscar Carmona, é imperativo revisitar a sua emblemática história.

Fundado em 1864, o primeiro número anunciava um projecto inovador: eliminava o artigo de fundo, não queria “discutir política nem sustentar polémica” e apresentava-se como “popular, noticioso, instrutivo, moralizador e imparcial”. A ideia nasceu na cabeça de Eduardo Coelho, que a alimentou durante anos (dizia que o DN era a sua monomania), e assentava neste principio revolucionário: era um jornal não doutrinário, acessível a “todas as inteligências e a todas as bolsas”.

O jornal fez do lucro dos anúncios a sua principal fonte de rendimento e apostou em formas directas de venda, através dos ardinas. Estes percorrem “ruidosamente” a cidade, apregoando notícias (e não chistes partidários) e o sucesso é imediato: a tiragem inicial de 5000 exemplares duplicou no final do primeiro ano de existência.

Inúmeros feitos de reportagem estão associados ao Diário de Notícias e foram registados nas suas páginas. Um dos episódios mais marcantes relaciona-se com dois jovens escritores, cheios de talento e vontade de “acordar o Chiado aos berros”: Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. No dia 24 de Julho de 1870 começaram a publicar, em folhetins, uma novela-verité (O Mistério da Estrada de Sintra).

Alfredo da Cunha, genro de Eduardo Coelho e seu sucessor na direcção do jornal, conta que a mobilização dos leitores pela história foi tal que “até a polícia se alarmou com o caso e houve muita gente que deixou de ir para Sintra, por medo aos tenebrosos mistérios da estrada”.

O jornalismo despolitizado inaugurado em Portugal pelo Diário de Notícias é um dos casos tratado na investigação de doutoramento de Carla Baptista na NOVA FCSH (2012) intitulada Apogeu, Morte e Ressurreição da Politica nos Jornais Portugueses, Do Século XIX ao Marcelismo (Escritório Editora: Lisboa).

Créditos da imagem: Isabel Cruz (Olhares)

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