Mulheres jornalistas em ruas de Lisboa

Destacaram-se na imprensa entre os séculos XVIII e XX e são hoje recordadas em 13 ruas de Lisboa. Foram mulheres jornalistas num tempo em não era fácil ser mulher nem jornalista. 

Encontraram no jornalismo uma forma de dar voz às causas sociais, em particular os direitos das mulheres. Lutaram pela emancipação feminina, pelo acesso à educação e pelo movimento revolucionário. O legado destas mulheres jornalistas permanece em 13 ruas de Lisboa e o seu levantamento foi feito no âmbito do  projeto de investigação Faces de Eva, da NOVA FCSH, sobre a toponímia no feminino na capital.

No bairro de Caselas, na freguesia de Belém, encontram-se três destas figuras femininas associadas à luta por direitos civis: Virgínia Quaresma, Leonor Pimentel e Alice Pestana.

Virgínia Quaresma, que dá nome a uma rua no Bairro de Caselas, foi a primeira jornalista com carteira profissional em Portugal. Começou por trabalhar no Jornal da Noite e por colaborar na secção “Jornal da Mulher” d’ O Mundo. Em 1908 mudou-se para O Século e em 1910 para A Capital. Destacou-se na reportagem política e assumia-se feminista e republicana: lutou pela aprovação da lei do divórcio, pelo direito ao voto feminino e igualdade de acesso às profissões.

Igualmente nesse bairro está inscrito o nome de Leonor Pimentel (1752-1799), redatora do primeiro jornal político napolitano Il Monitore e também escritora, poetisa, bibliotecária e ativista. Foi “uma das mais ativas incentivadoras do movimento revolucionário” italiano, lê-se na revista Faces de Eva (n.º1-2, 1999).

Alice Pestana (1860-1929) foi também homenageada com uma rua no bairro de Caselas. Destacou-se na defesa pelo direito à educação feminina, colaborou com muitas revistas e jornais, entre os quais o Diário de Notícias, O Século e O Tempo.

Na freguesia da Penha de França, Angelina Vidal deu nome a uma rua a 17 de Outubro de 1924. Militante republicana, lutou pelo sufrágio feminino e defendeu a igualdade de género. Também professora e escritora, colaborou (sob o pseudónimo de ‘Uma Republicana Viseense’) em publicações como O TecidoO Trabalhador e A Voz do Operário, da qual veio a ser editora entre 1897 e 1901.

Como ativista dos direitos humanos ficou conhecida Maria Lamas. A jornalista e escritora dá nome a uma rua na freguesia de Benfica, junto aos limites da cidade. Trabalhou no jornal O Século e dirigiu a revista Modas e Bordados. Procurou denunciar a situação das mulheres do seu país e apoiou  a Revolução dos Cravos. Também na mesma freguesia, Helena de Aragão (1880-1958), diretora das revistas Eva e Fémina e redatora do jornal O Mundo, ficou imortalizada numa rua do bairro de Santa Cruz de Benfica.

Escritora e jornalista, Ana de Castro Osório é nome de uma rua da urbanização da Quinta da Luz, na freguesia de Carnide. As suas primeiras crónicas foram publicadas em 1895, aos 23 anos. Como pioneira na luta pela paridade de género, publicou em 1905 o livro As Mulheres Portuguesas e o primeiro manifesto feminista português.

Na mesma urbanização da Quinta da Luz, Maria Veleda (1871-1955) é também homenageada: além de professora, foi ainda diretora da revista A Mulher e a Criança e da folha mensal A Madrugada.

Já na freguesia de Alcântara, junto à Cordoaria Nacional, encontra-se a artéria com o nome de Mécia Mouzinho de Albuquerque (1870-1961),  fundadora da Liga Nacional Contra o Cancro. Escrevia sob o pseudónimo de “Zoleica” quando colaborava com jornais ou revistas.

Num tempo em que as mulheres jornalistas viviam escondidas atrás de pseudónimos masculinos, a primeira mulher em Portugal que colocou o próprio nome no cabeçalho de um jornal dá nome a uma rua do bairro de Alvalade, perto do Campo Grande. Antónia Pusich (1805-1883) fundou as revistas Assembleia Literária e Beneficência e Cruzada. Distinguiu-se ainda como oradora política, pianista e compositora.

No mesmo bairro de Alvalade, uma das principais ruas tem o nome de Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921). De família culta e aristocrática mas arruinada, depois de enviuvar encontrou no jornalismo e na publicação de livros fontes de rendimento com as quais criou e educou os seus dois filhos. Figura conservadora, atacou o divórcio e negou a legitimidade do direito de voto às mulheres. Foi a primeira mulher a entrar na Academia de Ciências de Lisboa.

Professora, poetisa e cronista brasileira, Cecília Meireles (1901-1964) dá nome a uma rua em São Domingos de Benfica. Fundou o Diário de Notícias do Rio de Janeiro e a revista Festa.

Julieta Ferrão (1899-1974) é a denominação de uma rua na atual freguesia das Avenidas Novas, perto da estação de Entrecampos. Diretora do Museu Rafael Bordalo Pinheiro, colaborou com vários jornais como o Diário de Noticias, Portucale ou o Jornal da Mocidade e Portuguesa Feminina.

Trabalho realizado por Mariana Teófilo Cruz, na Unidade Curricular de Produção Jornalística, lecionada por Marisa Torres da Silva, do curso de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Teve como base o dossier Toponímia no Feminino publicado na revista  Faces de Eva (1999-2008), cuja fonte principal foi o Gabinete de Estudos Olisiponenses. A distribuição da toponímia por freguesias, realizada naquele dossier, foi atualizada tendo em conta a nova divisão administrativa.

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