Notáveis das Portas de Santo Antão: os “clubes da guerra”

Os últimos anos da I Guerra Mundial e os que se seguiram viram nascer uma nova forma de estar na cidade, particularmente à noite. A Rua das Portas de Santo Antão foi o cenário escolhido.

Especulação imobiliária, venda de produtos que escasseavam a preços exorbitantes e surgimento de novos negócios foram algumas das consequências da I Guerra Mundial. É neste quadro que aparecem os night-clubs de Lisboa, espaços de lazer nocturno que incluíam restaurante, salas de jogo e dança.

Embora alguns clubes representativos desta nova forma de estar na noite da cidade tivessem aparecido antes da Guerra, como o Maxim’s  e o Club dos Patos, o boom dá-se em 1917 e 1918, quando três dos clubes mais importantes se instalam na Rua das Portas de Santo Antão: o Palace Club e o Majestic Club, em 1917, e o Bristol Club, em 1918.

O Palace Club ocupa o n.º 89, um edifício projetado pelo arquiteto Álvaro Machado inicialmente para comércio de luxo. O primeiro andar constitui um único salão para festas e jogo. “Tango, jogo e cocaína davam o tom característico do uso que o novo espaço oferecia à cidade”, afirma Manuel Villaverde, que dedicou a sua tese de mestrado (1997) em História Contemporânea, na NOVA FCSH (1997) – “A Evolução de Lisboa e a Rua das Portas de Santo Antão (1879-1926)” – a esta rua emblemática, resumida neste artigo (2006). O clube encerra em 1920 e o andar é ocupado em 1922 pela Associação Comercial de Lisboa (já fundida com a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa), que ainda hoje aí se mantém.

O Majestic Club é instalado no n.º 58, num palácio de origem seiscentista pertencente aos viscondes de Alverca e condes de Anadia, que foi remodelado sob a direção do arquiteto Silva Júnior. É apresentado como um clube de luxo, “onde os estrangeiros que visitassem o nosso país pudessem ser condigna e luxuosamente recebidos, como são em Madrid, Paris, Londres e em toda as outras grandes capitais mundiais”. As luxuosas salas de jogo e o salão de baile, revestido de espelhos, eram as principais atrações. Denominado, anos mais tarde, “Monumental Club”, acaba por encerrar em 1928. Em 1932, é arrendado ao Grémio Alentejano e passa a chamar-se Casa do Alentejo. O espaço continua hoje a atrair lisboetas e turistas.

O último clube a abrir na Rua das Portas de Santo Antão foi o Bristol Club, no n.º 9, propriedade de Mário Freitas Ribeiro. Em 1925 e 1926, o edifício, projetado por Raúl Martins, sofreu obras de remodelação com desenhos do arquiteto Carlos Ramos: portas de entrada giratórias, escadaria de mármore, corrimões em tubos metálicos e cinzeiros de parede modernizaram o Club. Contudo, foram as obras de arte de Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Soares, Canto da Maia, Leopoldo de Almeida e de outros pintores e escultores modernistas que elevaram a decoração e o clube a outro nível. O clube encerrou em 1928.

Explore aqui outros notáveis da Rua das Portas de Santo Antão: o Ateneu Comercial de Lisboa, a Sociedade de Geografia de Lisboa, o Coliseu dos Recreios e o Politeama.

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