O “Big Bang” de Observatórios e Academias em Lisboa

Sabia que o edifício onde está hoje o Hospital de São José, junto do Martim Moniz, foi antes do terramoto de 1755 um observatório astronómico? E que devido às reformas políticas do Marquês de Pombal muitos cientistas portugueses tiveram que deixar o país? Conheça algumas histórias das instituições e observatórios através do telescópio de uma tese de doutoramento da NOVA FCSH.

1724. Este é o ano em que as mais importantes observações astronómicas foram feitas por religiosos jesuítas e da Congregação do Oratório, os oratorianos. Do porto de Lisboa para o mundo, os portugueses utilizavam as estrelas como guia e ferramenta para a navegação marítima, mas os estudos astronómicos em Portugal tiveram as suas razões para não se afirmarem no panorama internacional. António Mota de Aguiar, na tese de doutoramento (2009) sobre 100 anos de Astronomia em Portugal, de 1850 a 1950, enumera os observatórios que permitiram olhar para o céu de outra perspetiva.

Apesar do investimento e do interesse dos dirigentes do país ser insignificante, o século XVIII implodiu de instituições e observatórios lisboetas, alguns ainda hoje em funcionamento. A Real Academia das Ciências de Lisboa foi mandada construir em 1779 pela rainha D. Maria I e teve como impulsionadores o Duque de Lafões e o abade Correia da Serra, nome importante da astronomia desse século. Hoje, é conhecida como a Academia das Ciências de Lisboa. Nos seus arquivos encontram-se memórias de cientistas como as de Gago Coutinho, geógrafo cartógrafo e pioneiro da primeira ligação aérea do Atlântico sul.

Anos antes da fundação da Real Academia das Ciências, vários cientistas ligados a ordens religiosas tinham  fugido do país devido às políticas de Marquês de Pombal. Entre eles Correia da Serra, menciona o investigador: “Por maior que seja o legado positivo que o Marquês de Pombal nos tenha deixado, exerceu, contudo, um regime intolerante que obrigou ao exílio grandes vultos da ciência portuguesa do século XVIII”.

O Terreiro do Paço, onde residia a família real, era também a localização do Observatório do Paço, destruído aquando o terramoto de 1755. Também o Observatório de Santo Antão, pertencente ao Colégio de Santo Antão, não resistiu ao abalo sísmico. Atualmente é o edifício do Hospital de São José, no Martim Moniz.

O Colégio dos Nobres, mandado construir em 1761 pelo Marquês de Pombal, foi “por excelência um espaço para privilegiados, o qual veio a fechar pela improdutividade que a escola dava na formação de alunos, apesar de, aquando da sua criação, contar com os melhores professores do Reino”. Localizado no antigo edifício do Noviciado da Companhia de Jesus – atualmente o Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa –, a instituição fechou em 1837. A maioria dos alunos preferiu aulas de dança, equitação ou esgrima, aponta o investigador, mas o estudo das ciências exatas ficou assegurado na Escola Politécnica de Lisboa.

A Casa das Necessidades, hoje o Palácio das Necessidades e atual sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, pertencia à Congregação do Oratório no século XVIII e era o observatório de João Chevalier, estudioso de astronomia. O espaço deixou de funcionar quando o imóvel passou para a família real, ainda naquele século.

Em 1779 foi erguida a Academia Real da Marinha com o objetivo de formar os oficias da Marinha Mercante, da Marinha de Guerra e os engenheiros do Exército. Poucas décadas depois, em 1837, a Academia encerrou e os alunos foram transferidos para a Escola Politécnica de Lisboa. Mais tarde, em 1911, tornou-se a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Já a Academia Real dos Guardas Marinhos, edificada em 1782, tinha como morada o Terreiro do Paço e, em 1845, mudou o nome para Escola Naval.

O Observatório Real da Marinha, uma importante instituição da época, foi construído em 1798. Anos mais tarde, em 1858 – e sob a direção de Filipe Folque, um dos mais importantes astrónomos da época – era o único a estar activo em Lisboa. Em 1874 deixou de existir e ergueu-se o Real Observatório da Tapada da Ajuda, hoje o Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), em 1878.

Fotografia: Ministério dos Negócios Estrangeiros, antiga Casa das Necessidades, observatório de João Chevalier, estudioso de astronomia.

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Ana Sofia Paiva
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