Para o bem-estar da Lisboa renascentista, Todos-os-Santos ajudavam

A construção do Hospital de Todos-os-Santos, no Rossio, foi fundamental para modernizar os serviços de saúde e a organização do espaço público no centro de Lisboa. Esta foi a grande obra pública de Lisboa no século XVI.

Mais de uma década após o Papa Sixto IV autorizar a sua construção, o Hospital de Todos-os-Santos começou a ser erguido em 1492. Pelas mãos do rei D. João II, foi lançada a pedra fundamental do empreendimento a 15 de maio do mesmo ano. O objetivo desta construção, localizada no centro de Lisboa, era concentrar num único espaço os serviços de assistência médica de 43 instituições que estavam espalhadas pela cidade.

Este terreno era, até então, ocupado por verduras e tubérculos cultivados na horta do Convento de São Domingos. A grandeza da obra exigiu um extenso trabalho de terraplanagem e aterro do espaço, pondo fim à plantação, apontam Rodrigo Banha da Silva, investigador no Centro de Humanidades (CHAM) da NOVA FCSH, e Ana Cristina Leite, do Gabinete de Estudos Olisiponenses, no artigo que pertence ao catálogo “Lisboa 1415 Ceuta – História de Duas cidades”. Este inventário resultou do projeto que assinalou os 600 anos da chegada portuguesa ao território africano, em 2015.

Contudo, D. João II não viveu para ver a inauguração da obra. Faleceu em 1495, quando apenas as paredes se encontravam de pé. O seu sucessor, D. Manuel I, seria o responsável pela maior parte da obra. Após a conclusão das paredes que estavam voltadas para o lado oriental do Rossio, o rei ordenou a reformulação da praça.

O Rossio adquiriu, assim, a sua arquitetura monumental e o estatuto de segunda praça mais importante de Lisboa, depois do Terreiro do Paço. Esta obra tornou-se “o momento criador de uma matiz de intervenção em espaço público que definiu o carácter urbano da capital portuguesa até ao final do século XVIII, uma polarização dos poderes nas duas grandes praças da capital portuguesa”, referem os investigadores.

Não se sabe a data exata da inauguração do Hospital Real – mais conhecido pelos lisboetas por Hospital Grande -, mas há registos de internamentos datados de 1501. Neste edifício existiam quatro enfermarias, cada uma com o nome de um santo diferente e destinada a um campo médico distinto. Os setores eram divididos entre homens e mulheres e existiam ainda quartos privados para membros do clero e de famílias mais abastadas.

Os funcionários desempenhavam tarefas clínicas, espirituais e administrativas; alguns residiam no próprio edifício. À época, o Hospital oferecia, também, assistência social à cidade e tinha dependências para peregrinos e pessoas sem-abrigo pernoitarem, além de uma “casa dos expostos”. No final do século XVI, na parte mais alta do edíficio, exisitiu uma ala destinada aos “entrevados, e incuráveis e «casas para doidos»”.

As dificuldades na gestão do Hospital e a diversidade de funções que reunia fizeram com que a sua gestão passasse por várias mãos. Contudo, pela utilidade pública, pelas características arquitetónicas e urbanísticas, e pela visibilidade que dava ao poder político o Hospital Real de Todos-os-Santos foi a grande obra pública de Lisboa no século XVI.

Fotografia: Modelo 3D do Hospital de Todos-os-Santos em 1750 (Museu de Lisboa, imagem retirada do artigo mencionado)

Escrito por
Daniel Boa Nova

Estudante de mestrado da NOVA FCSH

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