Pintar Bordalo Pinheiro com curiosidade e irreverência

Curioso por natureza, foi autodidata na juventude.  Inconformado com o pessimismo do final do século XIX, Rafael Bordalo Pinheiro foi pioneiro no jornalismo ilustrado. As suas caricaturas satirizavam tanto o poder como o povo português.

Rafael Bordalo Pinheiro foi pintor, jornalista ilustrador e inconformado por natureza. Irmão do artista Columbano Pinheiro, Rafael também se dedicou às artes e pertenceu ao grupo que agregava um rol de pintores naturalistas: o Grupo do Leão. Raquel Henriques da Silva, investigadora do Instituto de História da Arte (IHA) da NOVA FCSH resume, num artigo (2007), alguns traços da vida e obra deste pintor.

A curiosidade definiu a vida de Bordalo Pinheiro: desde cedo se tornou autodidata na pintura e no teatro. Mais tarde, enveredou por uma profissão cultural mais moderna, a de jornalista ilustrador. O objetivo era passar a mensagem pela imagem: “mais imediatamente proposta e apreendida através da ilustração que, nos jornais de Bordalo, foi sempre humorístico e caricatural”.

Neste campo, Bordalo Pinheiro foi pioneiro e as suas obras ajudaram a afirmar o modernismo português. O pintor agregou nas suas publicações figuras incontornáveis da sociedade, como Ramalho Ortigão ou Fialho de Almeida. Raquel Henriques da Silva elogia a versatilidade do artista: “Homem das Arts and Crafts, apaixonado pela revolução industrial e pelo investimento criativo, fortemente individualizado, foi patrão e operário de um pequeno capitalismo moderno, raríssimo em Portugal”.

O pintor recusou o pessimismo da Geração de 70, grupo formado por, entre outros, Eça de Queirós, Antero de Quental ou Oliveira Martins, conhecidos mais tarde pelos Vencidos da Vida. Bordalo Pinheiro foi, pelo contrário, a “extraordinária exceção”. As suas armas foram obras e caricaturas – sendo a mais conhecida a de Zé Povinho – que satirizaram, em simultâneo, o poder e o povo.

As suas ações deliberadas e arrojadas geravam consequências: era presente a tribunal e fechavam-lhe o jornal. Contudo, Bordalo Pinheiro tinha uma forma única de lidar com as situações: se era condenado, escrevia a crónica do sucedido. Se lhe fechavam o jornal, fundava outro.

Rafael Bordalo Pinheiro ajudou “a consolidar uma sociedade livre”. Faleceu em 1905, na Lisboa que o viu nascer em 1846, e as homenagens estão espalhadas pela cidade. A par do Museu Rafael Bordalo Pinheiro, também um Largo no coração da capital lhe é dedicado.

Fotografia: ilustração  de Rafael Bordalo Pinheiro para a primeira página da revista Parodia – Comedia Portugueza, n.º 1, de 14 de Janeiro de 1903.

Escrito por
Ana Sofia Paiva
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