Um olhar urbanístico sobre bairros sustentáveis (I parte) – Alvalade

Alvalade (1945), Olivais-Sul (1960) e Telheiras-Sul (1974) são referências de bairros que integraram equipamentos coletivos nos seus planos urbanísticos. O resultado foi uma autonomia e melhor qualidade de vida para quem lá reside. Neste especial de três partes, Alvalade toma a dianteira.

Foram construídos em períodos diferentes, mas têm em comum a introdução de equipamentos coletivos como elementos estruturantes do tecido urbano e social, seguindo referências urbanísticas internacionais, e um processo de construção controlado pela intervenção pública, “revelando resultados qualitativos melhores do que em outras formas de fazer cidade”, afirma Patrícia Névoa que analisou na sua tese de mestrado em Gestão do Território da NOVA FCSH (2012) os planos urbanísticos de Alvalade (1945), Olivais-Sul (1960) e Telheiras-Sul (1974), bairros considerados ainda hoje sustentáveis.

Alvalade foi a primeira experiência de urbanização integral em Portugal – uma cidade dentro da cidade, como caracterizou a historiadora de arte Margarida Acciaiuoli. O plano urbanístico, da autoria de Guilherme Faria da Costa e projetado por uma equipa da CML, seguia princípios internacionais, como a Carta de Atenas, um documento de compromisso assinado por urbanistas e arquitetos internacionais, entre os quais Le Corbusier, e o Plano Geral de Urbanização e Expansão de Lisboa (1938) do urbanista Gröer (mais conhecido como Plano De Gröer).

O plano previa habitações construídas para vários estratos sociais, de forma a fomentar a sua coexistência, a organização das zonas residenciais em torno de uma escola – “elemento central de planeamento e de ‘construção de uma identidade urbana”, salienta a a investigadora –, caminhos pedonais de acesso ao equipamento escolar e blocos perpendiculares às vias de maior tráfego (Avenidas dos Estados Unidos da América, da Igreja, do Rio de Janeiro e de Roma).

A autonomia do bairro foi assegurada pela instalação de equipamentos coletivos de uso frequente, como uma igreja, instalações desportivas e recreativas, escolas primárias, liceus, estações de correio, postos de polícia, entre outros, todos a distâncias razoáveis e segundo o conceito de unidade de vizinhança para fomentar as relações sociais. O bairro estava também integrado na rede viária geral e na rede de transportes coletivos, incluindo os ferroviários (Entrecampos e Areeiro).

Ficaram por concretizar vários espaços verdes. Inicialmente o plano previa quintais nas frentes e nas traseiras das habitações mas, constantando o mau uso dos logradouros privados, a CML procedeu à abertura dos quarteirões de forma a criar logradouros comuns com recintos de recreio e parques infantis. Muitos estão hoje abandonados.

Alguns equipamentos culturais, símbolos do bairro, foram desaparecendo nos finais do século XX e princípios do século XXI, como os cinemas Quarteto, Londres e King. Subsiste o Cinema de Alvalade. O mercado de Alvalade Norte mantém um pólo de atração do tecido comercial, mas o de Alvalade Sul foi substituído em 1949 por um mercado de levante: está hoje, em 2017, a ser finalmente reconvertido.

Imagem: Mercado do Levante, Bairro de Alvalade (1949), J. C. Alvarez em Arquivo Fotográfico da CML.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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