Um olhar urbanístico sobre bairros sustentáveis (II parte) – Olivais-Sul

Na segunda parte da série especial dedicada a bairros sustentáveis de Lisboa, o olhar demora-se em Olivais-Sul. Edificado a partir de 1960, foi alvo de uma visão urbanística que não se tornou totalmente realidade.

O plano urbanístico de Olivais-Sul foi inspirado no das novas cidades inglesas do pós-guerra. Previa não só habitações acessíveis às populações com menos recursos, mas também todas as categorias habitacionais de forma a evitar a segregação social. Embora seguisse princípios da cidade tradicional, como a praça, o pátio e a rua, investia no princípio modernista da edificação de habitações em banda rodeadas por vastos espaços verdes, considerados um bem coletivo da cidade. Estes traços são salientados por Patrícia Névoa que estudou os planos urbanísticos de Alvalade (1945), Olivais-Sul (1960) e Telheiras-Sul (1974) na sua tese de mestrado em Gestão do Território da NOVA FCSH (2012).

O conceito de unidade de vizinhança, já usado no bairro de Alvalade, que previa “uma estrutura humana adequada ao desenvolvimento de atividades coletivas”, foi também aplicado em Olivais-Sul de forma a evitar que o bairro se tornasse um dormitório mal equipado e marginal. Os equipamentos coletivos – escolas primárias, igreja, transportes, espaços cívicos e comerciais – foram pensados em função das necessidades da população local, estudadas previamente.

Contudo, a execução do bairro não seguiu as intenções do plano urbanístico. Quando  já estava habitado na totalidade, muitos equipamentos coletivos ainda não tinham sido construídos, o que levou a uma área subequipada com sinais de decadência precoce.

A construção de um centro cívico e de zonas de comércio também não foi concretizada nos moldes previstos – só a parte comercial foi considerada e seria edificada mais tarde. Umas das razões, avança Patrícia Névoa, terá sido a complexidade dos programas, cuja execução estava dependente de vários organismos, na maior parte públicos. Embora o bairro seja hoje considerado sustentável, permanecem consequências da decadência precoce, visível logo a partir dos anos de 1970. É fruto da ausência de uma estratégia integrada para a construção simultânea de habitações e equipamentos, conclui a investigadora.

Imagem: uma das áreas habitacionais de Olivais-Sul.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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