Um olhar urbanístico sobre bairros sustentáveis (III parte) – Telheiras-Sul

I edição do Festival de Telheiras, organizadi pela ART (Associação de Residentes de Telheiras). Créditos: Mariana Baptista.

Até final da década de 1960, Telheiras era uma zona rural com quintas, um bairro-jardim e a Escola Alemã. É hoje uma referência urbanística na relação entre o centro cívico, as escolas e a associação de moradores.

Os dois primeiros estudos urbanísticos para Telheiras foram coordenados pelo arquiteto francês Gilles O’Callaghan. Do Plano de Urbanização de Telheiras (1969) resultaram as orientações relativas à organização e às características das habitações, da estrutura viária e dos equipamentos. No entanto, devido à criação da EPUL em 1971 e a alterações às premissas urbanísticas iniciais, o Plano da Zona de Habitação de Telheiras (1972) foi substituído pelo Plano de Pormenor de Telheiras-Sul (1974) e pelo Plano de Telheiras Norte 1 (1975), ambos da responsabilidade de Pedro Vieira de Almeida e Agusto Pita.

A unidade de ordenamento de Telheiras, com mais de 60 hectares e 20 mil habitantes foi tratada como “um conjunto fechado, mas sem esquecer a sua ligação com a envolvente e a própria cidade, apesar de circunscrita por rodovias”, salienta Patrícia Névoa que analisou na sua tese de mestrado em Gestão do Território da NOVA FCSH (2012) os planos urbanísticos de Alvalade (1945), Olivais-Sul (1960) e Telheiras-Sul (1974), ainda hoje bairros considerados sustentáveis.

A EPUL foi responsável pela urbanização das zonas norte e sul de Telheiras, mas a adoção de métodos distintos levou a duas realidades: enquanto Telheiras-Sul foi afeta a um plano de ordenamento que resultou num ambiente urbano de qualidade, os estudos para Telheiras-Norte não foram formalizados e várias operações urbanas tiveram um impacto negativo no espaço.

Em Telheiras-Sul, a abordagem integrada teve em conta a tipologia de edificações, o número de fogos e de habitantes, áreas para jardins, recreios, escolas, serviços em função das áreas habitacionais e lugares de estacionamento.  Privilegiou-se a vida coletiva intensa e abandonou-se as tipologias habitacionais em torre ou em banda, isoladas no espaço. A distância máxima a pé de qualquer ponto do bairro ao centro de Telheiras é de 400 metros.

Embora tivessem existido alterações ao plano, que resultaram numa maior área construída e maior densidade populacional, na ausência de áreas verdes de proteção aos eixos viários e num número de equipamentos aquém do planeado, o bairro de Telheiras-Sul goza de elementos privilegiados. O centro comunitário correspondeu aos moldes previstos no plano e é hoje uma estrutura de referência com residência, centro de dia, serviço de apoio domiciliário e emergência social.

A proximidade entre escolas, centro comunitário e as instalações da Associação de Residentes de Telheiras (ART) tem possibilitado a partilha de espaços e atividades e a dinamização de ações conjuntas. A investigadora salienta que esta associação, criada em 1988, teve um papel decisivo no apoio à população, numa altura em que se confrontava com as dificuldades de uma urbanização recém-criada, relacionadas principalmente com o facto de a construção das habitações ter precedido a dos equipamentos. A ART continua a contribuir hoje para a construção de equipamentos de apoio à população.

Imagem: I edição do Festival de Telheiras, organizadi pela ART (Associação de Residentes de Telheiras). Créditos: Mariana Baptista.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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