Einstein ignorado quando visitou Lisboa

Laureado com o Nobel da Física em 1922, Albert Einstein esteve duas vezes em Lisboa, tendo as duas visitas sido ignoradas pela comunidade científica portuguesa. Nos seus apontamentos, escreveria sobre a capital e as suas gentes.

Cabelos brancos desgrenhados, bigode despenteado e, por vezes, com a língua de fora. Esta era a imagem de marca do cientista que ficou mundialmente conhecido pela formulação da Teoria da Relatividade Geral. Com esta, Albert Einstein foi laureado, em 1922, com o Prémio Nobel da Física e a sua fama no mundo académico intensificou-se. As primeiras ideias começaram em 1905, mas apenas chegaram a Portugal em 1912, sete anos depois.

O estudo das ciências exatas não era a prioridade do país, atrasado em comparação aos restantes países da Europa, refere António Mota de Aguiar, na tese de doutoramento (2009) da NOVA FCSH, sobre os 100 anos de Astronomia em Portugal, de 1850 a 1950. A Teoria da Relatividade Geral não era aceite pela maioria dos cientistas portugueses, mas foi em território colonial  que a mesma seria comprovada.

“A Teoria da Relatividade veria sustentada a sua validade pelas observações do eclipse do Sol de 29 de Maio de 1919, ainda por cima num território administrado por Portugal” na Ilha do Príncipe, na linha do Equador. Esta descoberta, conduzida por uma equipa de investigadores ingleses, corroborou a visão de Einstein. Mas em Portugal este dado era indiferente para muitos, incluindo Frederico Oom, astrónomo e diretor do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) desde 1920.

Frederico Oom não escreveu nenhuma linha sobre a descoberta na Ilha do Príncipe, em 1919, nem sobre a passagem do Nobel da Física por Lisboa, por duas vezes, em 1925. A viagem de Albert Einstein ao Brasil, nesse ano, permitiu-lhe estar no dia 11 de março em Lisboa. Segundo uma publicação do físico Carlos Fiolhais, viria então a conhecer o Castelo de São Jorge e o Mosteiro dos Jerónimos. No diário de viagem, escreveu sobre a cidade e as varinas:

Dá uma impressão maltrapilha mas simpática. A vida parece correr confortável, bonacheirona, sem pressa ou mesmo objectivo ou consciência. Por toda a parte nos consciencializamos da cultura antiga.

 Vendedora de peixe fotografada com um cesto de peixe na cabeça, gesto orgulhoso, maroto.

Já no Rio de Janeiro, Einstein salientou a beleza das mulheres portuguesas, num jantar em Copacabana:

São mulheres de uma elegância que me fez parar muitas vezes para admirá-las. No grupo em que estava, fotografámo-las e pusemos na nossa mesa de refeição, a bordo, os retratos. 

O cientista voltou a Lisboa a 27 ou 29 de março de 1925, ignorado mais uma vez pela comunidade científica. “Se Frederico Oom não teve conhecimento da passagem no dia 11 de Março de 1925 de Einstein por Lisboa, no regresso, depois do enorme sucesso que Einstein teve no Brasil, não a podia ter ignorado”. Mas acabou por o ser e, provavelmente por isso, Einstein colocou a língua de fora.

Fotografia: Albert Einstein

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Ana Sofia Paiva
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