Como se votou em Lisboa nos últimos anos da monarquia?

As épocas eleitorais eram um dos momentos mais agitados da vida política nacional, mas a noção de “campanha eleitoral” era uma tradição urbana, ligada a Lisboa, principal centro político do país. Raramente eram apresentados programas eleitorais e só a partir de 1905 é que os comícios se tornaram frequentes na capital, privilegiando a zona dos Anjos.

Na passagem para o século XX, o grau de afluência às urnas em Lisboa tende a aumentar quando a presença republicana é mais forte ou nos momentos de maior instabilidade do regime político, afirma Pedro Tavares Almeida, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da NOVA FCSH que estudou neste artigo (1985) os comportamentos eleitorais em Lisboa entre 1878 e 1910. O crescimento eleitoral republicano manifesta-se a partir da década de 1890, resultado da crise económica e política, e da implantação da República no Brasil, em 1889. Só entre 1900 e 1910, a votação republicana cresceu, em Lisboa, 375 por cento.

Era nas áreas rurais de Lisboa que os candidatos monárquicos conseguiam obter mais votos o que lhes assegurava a totalidade ou a maioria dos deputados – a exceção aconteceu apenas em 1910, nas últimas eleições antes da Implantação da República Portuguesa, a 5 de outubro. Esta preponderância devia-se, segundo o investigador, a atos coercivos e fraudulentos dos caciques monárquicos, como violência física, simulação dos sufrágios ou falsificação dos resultados – a participação eleitoral nas áreas rurais chegava a 100 por cento. Nas áreas urbanas da capital, as formas de organização e cultura política favoreciam a independência do eleitor e a opinião pública dificultava a atividade dos caciques monárquicos.

A percentagem de votantes entre os eleitores foi a mais baixa em 1895 (27%) e a mais alta em 1908 (63%). Nas eleições de 13 de outubro de 1878, a primeira em que o voto eleitoral é alargado a todos os cidadãos masculinos maiores de 21 anos alfabetizados e a chefes de família, mesmo analfabetos, registou-se apenas um aumento de 17%, o que indiciava um fraco índice de cidadãos ativos na política, uma baixa taxa de alfabetização da população masculina adulta e a débil capacidade de mobilização de massas por parte dos partidos.

Imagem: Proclamação da República Portuguesa, a 5 de outubro de 1910.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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