O Aqueduto das Águas Livres é uma das obras que relembram o privilégio da distribuição da água. Um trabalho de projeto de Mestrado da NOVA FCSH aponta cinco equipamentos do Museu da Água que memorizam os contornos da entrada e circulação da água na capital.
Interligar aspetos históricos e outros mais recentes para a construção de uma memória coletiva do Museu da Água, na freguesia de São Vicente, em Lisboa, foi o objetivo de Tiago Vieira, no seu Trabalho de Projeto de Mestrado em Culturas Contemporâneas e Novas Tecnologias (2016) da NOVA FCSH. Como é que a água chegou à capital? Que equipamentos permitiram tal feito? O projeto traça uma breve história dos cinco núcleos museológicos do Museu da Água.
O núcleo museológico mais conhecido é o Aqueduto das Águas Livres. Esta grandiosa obra hidráulica do século XVIII foi mandada construir pelo Rei D. João V em 1731. O Aqueduto captava e transportava a água de forma gravítica de 60 nascentes, nomeadamente as das Águas Livres, localizadas na bacia hidrográfica da Serra de Sintra.
A obra escapou ilesa ao terramoto de 1755 e foi apenas concluída em 1799. Com 127 arcos e uma extensão de 941 metros sobre o vale de Alcântara, o aqueduto é composto por uma rede total de 58 quilómetros, que se divide entre o Aqueduto Geral, com 14 quilómetros, e 44 quilómetros de aquedutos complementares. Em 1910, foi considerado Monumento Nacional.
O Reservatório da Mãe de Água das Amoreiras e a Galeria do Loreto
O Reservatório da Mãe de Água das Amoreiras foi edificado em 1834. Depois de 88 anos de construção, este equipamento tornou-se operacional na receção da água do Aqueduto das Águas Livres, para depois distribuí-la pelos chafarizes e fontes de Lisboa. Este reservatório podia albergar perto de cinco mil e 500 metros cúbicos de água, a uma profundidade de sete metros e meio.
Com o reservatório construído, a água começou a ser distribuída através de cinco galerias subterrâneas. As galerias do Loreto, do Campo de Santana, das Necessidades, do Rato e da Esperança, com sensivelmente 12 quilómetros, asseguravam o abastecimento de água na cidade. Uma destas galerias, a do Loreto, constitui outro núcleo museológico do Museu da Água, dado que fazia a ligação entre a Casa do Registo, nas Amoreiras, e o Largo de S. Carlos.
O Reservatório Patriarcal do Príncipe Real
Já o Reservatório da Patriarcal, construído em 1864, está “camuflado” no jardim do Príncipe Real. Este equipamento teve o intuito de fazer face às necessidades da população da cidade, que estava a aumentar, paralelamente à fixação de indústrias e instituições no final do século XIX. Este reservatório foi utilizado até 1949 e, curiosamente, tem a mesma forma geométrica do lago que está no jardim do Príncipe Real.
A Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos
O último núcleo que o investigador refere é a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, na freguesia de São Vicente, do lado oriental da colina da Graça. Esta estação foi responsável pela distribuição domiciliária da água na cidade e funcionou desde 1880 a 1924. Neste museu estão presentes as quatro máquinas a vapor que testemunham o passado industrial. Na sala que é hoje a de exposição permanente existiam as cinco caldeiras e a chaminé que originavam os vapores que faziam funcionar as máquinas elevatórias.
A concessão da água em Lisboa
Tiago Vieira, na sua investigação, destaca que a Companhia das Águas de Lisboa (CAL), a primeira empresa concessionária da água, abasteceu a cidade por mais de uma centena de anos. A empresa vigorou desde abril de 1868 a outubro de 1974, período em que terminou o contrato de concessão.
Assim, surgiu a Empresa Pública das Águas de Lisboa (EPAL), nome pela qual ficou conhecida até 1981, passando a designar-se por Empresa Pública das Águas Livres, S.A (EPAL). Estas duas empresas distintas, a CAL e a EPAL, mantiveram o interesse comum em preservar o seu património, de forma a relembrar que a água nem sempre foi um privilégio de todos.
Fotografia: Reservatório da Mãe de Água das Amoreiras. Créditos: Museu da Água