Em 1848, o Chiado tornou-se a primeira zona iluminada a gás da capital. A sua luz contagiou a literatura portuguesa dos séculos XIX e XX.
Lugar de vivência burguesa, que se dividia entre hotéis, restaurantes, livrarias, lojas de moda e o Teatro São Carlos, o Chiado é descrito por Camilo Castelo Branco, em A Queda dum Anjo como local para a personagem Calisto satisfazer a sua vaidade. Semelhante ambiente é também descrito por Eça de Queirós, em A Capital (1929): a personagem Artur Curvelo observa a zona da janela do seu quarto no Hotel Universal – onde é agora o Centro Comercial do Chiado.
O Chiado surge também como local de cultura, onde escritores e seus leitores se passeiam pela Bertrand, como descreve Eça de Queirós em Alves & Cªa (1925), e associado à frequência de cafés e pastelarias. Na segunda metade do século XIX, o café Marrare do Polimento (Rua Garrett, 58-60), hoje lugar de acesso a uma garagem e lojas) foi imortalizado em Os Maias (1888), de Eça, e em Coisas Espantosas (1862) de Camilo Castelo Branco.
No Largo das Duas Igrejas, situam-se outras pérolas da literatura: a Brasileira e a Havaneza. Foi aí que Paulo de Figueiroa, personagem de A Queda dum Anjo (1866), de Camilo Castelo Branco, recém-chegado a Lisboa, assistiu com espanto aos espectáculos de rua.
Estas passagens do Chiado na literatura foram reunidas por Ana Isabel Queiroz e Daniel Alves, investigadores da NOVA FCSH, no livro Lisboa, Lugares da Literatura (2012, editora Apenas). Explore a aplicação Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental, desenvolvido pelo IELT – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, do qual resultou o livro, para ler excertos literários de obras onde o Chiado e outros locais de Lisboa são referenciados.
Legenda da imagem: pormenor do Chiado (Rua do Carmo, no século XX. Créditos: Arquivo Fotográfico de Lisboa.