Ensinar jazz nos anos de 1970: a criação da escola do Hot Clube de Portugal

A criação da primeira escola de jazz do país foi fomentada pela necessidade de profissionalizar os músicos e de fazer chegar o jazz a mais públicos, mas acabou por afirmar-se também como um novo modelo de ensino, alternativo ao do conservatório.

Desde 1948 que um grupo de entusiastas de jazz, liderado por Luiz Villas-Boas, mantinha um programa de rádio com o propósito de preparar o terreno para a fundação de um clube de jazz. Dois anos mais tarde, nascia oficialmente o Hot Clube de Portugal. Situado na Praça da Alegria, em Lisboa, é um dos mais antigos clubes de jazz da Europa e, afirma o clube, o que mantém atividade ininterrupta há mais anos.

Foi a persistência de Zé Eduardo, contrabaixo de jazz português, que levou à criação da primeira escola de jazz em Portugal, no Hot Clube, hoje chamada Escola Luiz Villas-Boas, em homenagem ao fundador do clube. No entanto, Pedro Alexandre Mendes, que analisou o processo de escolarização desta prática musical na sua tese de mestrado (2016) em Ciências Musicais da NOVA FCSH, defende o contributo da ação coletiva para o sucesso da escola.

Por um lado, além de Zé Eduardo, outros agentes fomentaram a prática, a disseminação e o ensino do jazz: Luiz Villas-Boas investiu na organização de concertos e festivais de jazz; outros dirigentes do Hot Clube empenharam-se em criar uma estrutura de apoio aos músicos, além de o próprio clube funcionar como divulgação e promoção do jazz; pessoas ligadas à indústria fonográfica investiram na distribuição da discografia de jazz.

Por outro lado, as mudanças políticas desencadeadas pelo 25 de abril e o trabalho de instituições culturais facilitaram a afirmação deste género musical, devidamente ancorada em políticas públicas. Em último lugar, o discurso sobre a profissionalização tornou-se prevalecente entre os agentes deste universo musical, crescendo o interesse por uma aprendizagem mais estruturada em detrimento da procura de músicos “amadores”.

Pedro Alexandre Mendes sistematiza na sua investigação as três grandes consequências do nascimento da Escola de Jazz do Hot Clube: permitiu, pela primeira vez, o estudo rigoroso, metódico e organizado do jazz; afirmou-se como um veículo de promoção do género; e acabou por ser uma alternativa ao modelo predominante de ensino da música – o do conservatório. A aprendizagem do jazz atraiu ainda instrumentistas vindos de outros universos musicais, pelo que o impacto desta forma de ensino noutras práticas merece uma reflexão atenta.

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