Exibiu pela primeira vez em 1913 a sua veia modernista com a Symphonia Camoneana. Ruy Coelho viria a ser autor de bailados como A Princeza dos Sapatos de Ferro e O Sonho da Princesa na Rosa, em colaboração com o ex-líbris do modernismo, Almada Negreiros.
Ruy Coelho, compositor do século XX e cujo contributo para o Modernismo em Portugal é pouco conhecido, contactou de perto com a Geração de Orpheu, em particular com Almada Negreiros. É um dos “mais esquecidos compositores do século XX”, afirma Edward D’Abreu. O investigador do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM) da NOVA FCSH reconstitui num artigo integrado na edição especial dedicada a Almada o percurso destes dois artistas e as obras em que participaram juntos.
Em 1922, antes de um concerto no Brasil, Ruy Coelho refere-se a Almada como “o mais forte e verdadeiro espírito moderno da Arte em Portugal”. Três anos depois, Almada oferecia a Ruy Coelho um exemplar da obra Pierrot e Arlequim com dedicatória para o “camarada” e “amigo”.
Apesar de alguns desentendimentos entre 1920 e 1940, em 1979, nove anos após a morte de Almada Negreiros, Ruy Coelho publica uma breve crónica em memória do seu colega, onde volta a elogiá-lo.
Várias foram as colaborações entre ambos, aliás. Em 1916, contribuem para a revista semanal A Ideia Nacional. Fizeram também parte do “Grupo do Tavares”, espaço de discussão para desenvolvimento de iniciativas da Arte Moderna Portuguesa, inclusive a revista de Orpheu.
O documento mais importante que dá conta da cooperação entre Ruy Coelho e Almada Negreiros remete para 1917. Trata-se de um manifesto (anexo à revista Portugal Futurista), celebrando a chegada dos Bailados Russos, assinado por Almada Negreiros, Ruy Coelho e José Pacheko.
De acordo com o manifesto, no bailado A Princeza dos Sapatos de Ferro, partitura de Ruy Coelho concluída em 1912, Almada Negreiros participou como bailarino e foi responsável pela encenação, coreografia e figurinos.
No Bailado do Encantamento, estreado juntamente com A Princeza dos Sapatos de Ferro, Ruy Coelho contou também com a ajuda de Almada na encenação e coreografia do primeiro ato. A encenação de O Sonho da Princesa na Rosa, em 1916, coube mais uma vez a Almada Negreiros.
Texto realizado no âmbito da disciplina de Atelier de Jornalismo, lecionada por Dora Santos Silva, da licenciatura em Ciências da Comunicação.