Lisboa está viva, mas envelhecida

Lisboa é uma cidade envelhecida. Investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) concluem que os jovens residentes entre os 15 e os 39 anos vivem em zonas mais distantes do centro da cidade. Porém, os bairros históricos estão mais vivos do que nunca.

Os residentes de Lisboa estão mais idosos. A população entre os 15 e 39 anos (jovens e jovens –adultos) está a preferir freguesias mais distantes do coração da capital para residir. A conclusão é de Maria do Rosário Jorge, Luís Vicente Baptista e Jordi Nofre, investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), no artigo (2017) onde procedem a uma análise comparativa dos dados do INE e da PORDATA entre 1960 e 2011.

As estatísticas demonstram esta diminuição: em 1960, a população entre os 15 e os 39 anos representava uma fatia de 41,7 por cento da população residente em Lisboa, enquanto que no censo de 2011 era apenas 31,5 por cento. Estes indicadores exibem aquilo que “pode ser revelador da menor capacidade de rejuvenescimento da população residente” na cidade, afirmam os investigadores. O período mais crítico foi entre 1981 e 2001, quando se registou uma quebra de 33 por cento na população jovem e jovem adulta residente.

As freguesias mais distantes do centro da cidade apresentam o maior número de residentes jovens, segundo os dados do censo de 2011, anterior  à reorganização das freguesias. A Ameixoeira era a freguesia que mostrava o maior valor – 38,7 por cento – seguida da Charneca e do Lumiar. Marvila, Ajuda, Benfica, Alcântara e Campo Grande também apresentavam um número considerável de jovens e de jovens-adultos a residir nas suas freguesias.

Em 2011, 78 por cento da população jovem entrava em Lisboa, o que reforça ainda mais a posição da cidade como um destino de trabalho e de educação e não de habitação. Outro dado que sustenta tal conclusão é o facto de apenas nove por cento dos residentes saírem do município quotidianamente.

Mas se, por um lado, Lisboa apresenta “uma fraca capacidade de fixação de população jovem”, por outro, atrai cada vez mais turistas, estudantes universitários e trabalhadores de todas as regiões do país, os chamados Profissionais Liberais, Intelectuais e Cientistas (PLIC). O Censo de 2011 demonstra esta tendência, com o registo do aumento da concentração de pessoas na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Isso significa que Lisboa é “cidade-centro de uma área metropolitana que concentra uma elevada percentagem de população do país”. Além disso, está na mira dos estudantes que fazem ERASMUS.

A capital, no Relatório Anual do Programa de Erasmus de 2014, faz parte dos dez destinos europeus preferidos por estes estudantes, e é cidade turística para tantos outros viajantes. Em consequência, o centro de Lisboa ganhou vida neste processo de reabilitação urbana e os bairros históricos  “voltaram a ser objeto de uma vibrante atividade económica e cultural”, referem os investigadores.

Desta reabilitação e revitalização do espaço urbano, resultou o aumento do número de jovens a habitarem o coração de Lisboa. Algumas das freguesias que demonstram este facto eram, à data do Censo de 2011, as de São Nicolau, Madalena, Sacramento e Santa Justa, a registarem percentagens entre os 37 e os 47 por cento. Contudo, os investigadores apontam variáveis impossíveis de contabilizar, como a falta de contratos de arrendamento e de oficialização de residência no país por parte de alguns estrangeiros.

Estas “dinâmicas populacionais das freguesias de Lisboa estão a suscitar novas configurações demográficas” nos bairros históricos e nas “áreas de crescimento urbano mais recente”, locais onde se encontra a maior fatia de população jovem. No entanto, concluem os investigadores, este facto é um “paradoxo” porque o aumento da população jovem traduz-se em habitação temporária, resultante do turismo e de estudantes universitários oriundos de outros locais, e é verificável uma fraca capacidade de fixar os jovens residentes nos mesmo locais.

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Ana Sofia Paiva
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