Violência doméstica e de género em Lisboa: 60% das mulheres “não fizeram nada”

Mulheres são agredidas sobretudo por parceiros e ex-parceiros, no espaço privado. Primeiro inquérito municipal à violência doméstica e de género no concelho de Lisboa foi realizado pelo Observatório Nacional de Violência e Género do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da NOVA FCSH.

Mais de metade das mulheres  (50,3%) e dos homens (61,9%) residentes no concelho de Lisboa já foi vítima de violência física, psicológica e sexual. Os números são elevados para ambos, mas as diferenças também o são: nas mulheres, a violência ocorre sobretudo no espaço privado, perpetrada por parceiros e ex-parceiros; nos homens, a violência é pública, cometida por desconhecidos, pais ou amigos.

As mulheres são sobretudo vítimas de homens (84%), enquanto os homens são vítimas de outros homens (53%). A violência física é o único tipo de violência mais expressiva em homens (41,2%) do que nas mulheres (19,7%). Os atos mais referidos são “sovas”, lê-se no relatório do inquérito conduzido pelo Observatório Nacional de Violência e Género, da NOVA FCSH, entre 2014 e 2017. A violência psicológica ocorre sobretudo nas mulheres e no caso da violência doméstica as diferenças continuam: nos homens (26%), está associada a atos cometidos pelos pais na infância; as mulheres (28%) foram agredidas pelos cônjuges ou ex-parceiros.

O estudo revela também contrastes ao nível do impacto dessa violência: mais de metade das mulheres reconhece que os atos de violência afetaram as suas vidas, mas 62% admite que não fez nada, isto é, não contactou a polícia ou um estabelecimento de saúde. Também nos casos de violação ou tentativa de violência, metade das mulheres não fez nada. Essa atitude é justificada pela descrença nas entidades ou na própria desvalorização da situação.  As mulheres sentem-se também mais discriminadas em função do seu género (63%).

Os investigadores não encontraram um perfil de vítima em termos etários nem uma relação com o nível de escolaridade, mas concluíram que a situação de desemprego é um dos principais gatilhos para a vitimação.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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