Parque das Nações: como uma área marginalizada se converteu numa montra da cidade

A intervenção urbana no âmbito da Expo’98 foi excecional: uma zona industrial, quase desativada e de casas envelhecidas, foi transformada num complexo de lazer, escritórios e habitação de alta qualidade. O Parque das Nações resulta de um fenómeno apelidado de “gentrificação por nova construção”.

A expressão é usada por académicos internacionais para identificar a construção de novos empreendimentos urbanos em zonas industriais empobrecidas, fora dos centros históricos, implicando a expulsão da população aí residente. É também usada por Ana Patrícia Pereira na sua tese de doutoramento em Sociologia Urbana da NOVA FCSH (2013), para qualificar o processo de transformação do Parque das Nações.

No último quartel do século XX, as infraestruturas portuárias e industriais existentes na zona ribeirinha estavam decadentes em resultado da redução da atividade dos portos. Mesmo assim, a investigadora sublinha que em 1993 se localizavam na área mais de 100 empresas, empregando 3.130 pessoas, e que nela residiam cerca de mil – ao contrário do que os promotores da Expo’98 tentaram veicular, não se tratava de um “vazio urbano”.

A maior parte dessas famílias vivia no bairro camarário da Rua Conselheiro Ferreira do Amaral, mais conhecida por Rua Nova. Com uma posição socioeconómica modesta, com origens em zonas rurais do país, tinham migrado para Lisboa para trabalhar na indústria ou nos serviços.

A construção do Parque das Nações implicou não só a expulsão de pessoas e de atividades instaladas na zona de intervenção, mas também em áreas de acesso, como a da Ponte Vasco da Gama. Essas famílias acabaram por ser realojadas ou indemnizadas, num processo que não foi pacífico na fase final, dada a urgência da desocupação em tempo útil para a realização da exposição. Outra forma de deslocação foi a “excludente”, dado que os novos complexos habitacionais ficaram inacessíveis à população com baixos rendimentos.

O investimento económico na renovação dessa zona foi sobretudo de origem pública, no âmbito da Parque Expo, “fulcral na transformação da paisagem urbana e no processo de atração de residentes, de visitantes e de atividades”, salienta a investigadora. A proposta inicial era realizar todo o projeto a “custo zero”, mediante empréstimos da banca que seriam pagos com as receitas do projeto. Contudo, o endividamento do grupo em 2011 era de 250 milhões de euros, o que levaria à sua dissolução.

No entanto, foi a desocupação, a infraestruturação do terreno e a recuperação ambiental levada a cabo com recursos públicos que viriam a permitir o investimento privado. “Foram investimentos públicos que fizeram aumentar o valor dos investimentos privados”, conclui Patrícia Pereira.

Fotografia: Paulo Juntas

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