O 25 de abril nas páginas do Diário de Lisboa

“O Movimento das Forças Armadas prosseguirá na sua ação libertadora” era o título em parangonas da segunda edição do Diário de Lisboa, no dia 25 de abril. A cobertura do vespertino ficou marcada pela ingenuidade e pelo deslumbramento, descreve uma investigadora da NOVA FCSH.

Quinta-feira, 25 de abril de 1974. A capa do Diário de Lisboa (1921-1989), vespertino com forte influência entre oposicionistas, repetia em destaque, na segunda edição do dia, o título “O Movimento das Forças Armadas prosseguirá na sua ação libertadora”, retirado do comunicado do movimento ao país. Mais duas chamadas compunham a capa: três comunicados e a notícia do cerco ao Quartel do Carmo, que resultara na redenção do Governo às Forças Armadas. “O General Spínola no Poder”, lia-se no subtítulo.

Perante “o turbilhão de factos que estavam a acontecer”, o Diário de Lisboa sofre “da ingenuidade e do deslumbramento”, afirma Cecília Barreira, investigadora da NOVA FCSH, nesta comunicação (2016). Por um lado, este periódico de esquerda moderada limita-se a publicar os manifestos do Movimento das Forças Armadas e da “estranha” Junta de Salvação Nacional, presidida pelo general Spínola, sem questionar qualquer opinião. Por outro, a cobertura dos 30 dias seguintes fica marcada por temas como o feminismo, as minorias sexuais, a abolição das censuras, a agitação literária e as palavras libertárias. Teóricos como Herbert Marcuse, da conhecida Escola de Frankfurt, chegam às páginas do jornal.

A 27 de abril, o Diário de Lisboa mostra posters de Abel Manta que tinham sido cortados pela censura em 1969. A 2 de maio, a fotografia da multidão reunida no estádio 1.º de Maio ocupa quase toda a primeira página, suportada pelo título “O povo unido jamais será vencido”. No dia seguinte, fala-se do regresso de Manuel Alegre e de Piteira Santos e o crítico Lauro António publica um longo artigo intitulado “Por um cinema livre, por uma nova crítica”. Os escritores ocupam muitas páginas do jornal.

Também o feminismo se expande abertamente. Na edição de 15 de maio, Helena Neves, que pertencia ao Comité Central do PCP e tinha sido presa uns dias antes do 25 de abril, aborda a questão da humilhação, sofrimento e violência sobre as mulheres.

Um dia depois, Maria Isabel Barreno, co-autora das Novas Cartas Portuguesas, obra revolucionária que escreveu em conjunto com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (conhecidas como as Três Marias), questiona a opressão da mulher numa sociedade masculina e aborda uma questão inédita num jornal português: o prazer feminino. Diz a escritora: “Partindo da produção de crianças, somente se pode compreender certos detalhes tais como: a repressão violenta do onanismo – desperdício, prática sexual sem qualquer utilidade económica ou ideológica; a prostituição, por exemplo, serve à reprodução dos agentes; todas as excitações, físicas ou psicológicas, do clítoris, órgão abominável visto que, não sendo um meio de produção de crianças, permite, ainda por cima, o prazer das mulheres”.

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