No final do século XIX, os lojistas de Lisboa, parte da pequena burguesia, foram determinantes para o movimento republicano e a implantação desta estrutura política.
Os lojistas de Lisboa eram donos de estabelecimentos comerciais fixos de venda a retalho, mas participavam também no atendimento ao público. É a acumulação de capital, a posse de propriedade e a inclusão do seu próprio trabalho que levam os lojistas a identificar-se como classe, integrada num posicionamento social, “entre os que produzem e os que consomem”, explica Daniel Alves, historiador da NOVA FCSH neste artigo (2010), que resume a sua tese de doutoramento (2010) em História Económica e Social Contemporânea desta faculdade, já publicada em livro (Edições Cosmos, 2012).
A adesão dos lojistas ao movimento republicano – numa atitude divergente de outros países – reside, segundo este investigador, em três fatores: a evolução económica, a dinâmica reinvidicativa da Associação Comercial de Lojistas de Lisboa (ACLL) e a própria conjuntura política.
Por um lado, o aumento das rendas das lojas desde finais da década de 1880 e a instabilidade financeira e económica levaram a uma queda generalizada do nível de rendimentos dos lojistas, ao aumento de falências e à diminuição do número de estabelecimentos.
Por outro, a ACLL, fundada em 1870 e gerida a partir de 1885 por um influente eleitoral progressista – José Pinheiro de Melo –, juntamente com sócios republicanos, começou a ter uma atitude associativa dinâmica, levando ao aumento do número de associados que viam na associação a voz representativa dos seus interesses.
Por fim, os lojistas, desiludidos com os partidos monárquicos, aderiram ao programa republicano de 1891, que investia na estabilidade do negócio, reconhecia a necessidade de uma reforma fiscal que tivesse em conta as particularidades das pequenas empresas e a concorrência sã entre indivíduos. Daniel Alves sublinha que as expetativas ignoradas ou desvalorizadas pelos Regeneradores e os momentos de tensão relacionados com os impostos, os monopólios e a instabilidade “acabariam por lançar o radicalismo dos lojistas nas mãos dos republicanos”.
Legenda: reunião da Associação Comercial dos Lojistas de Lisboa (1911). Fotografia de Alberto Lima (Arquivo Fotográfico de Lisboa).