Fé no feminino: santas e mártires nas ruas de Lisboa

Da Rua de Santa Justa à Rua de Santa Catarina, a toponímia de Lisboa esconde histórias de nove mulheres que, perante as mais desumanas adversidades, não desistiram da sua fé.

Das santas e mártires que dão o nome a arruamentos de Lisboa, apenas Santa Quitéria, presente num beco e numa travessa na freguesia de Campolide, é natural de Portugal. Nascida no século II, é padroeira das pessoas angustiadas e deprimidas. Existem lendas associadas à sua tortura (aqueles que a prenderam terão ficado cegos) e à sua morte: conta-se que, depois de executada, ainda caminhou levando a sua própria cabeça nas mãos. As outras mártires homenageadas na toponímia lisboeta foram vítimas das perseguições aos cristãos, durante o Império Romano.

Santa Luzia e Santa Apolónia tiveram destinos dolorosamente semelhantes: a uma arrancaram os olhos, a outra os dentes. A primeira dá nome a uma travessa, um largo e um miradouro na freguesia de Santa Maria Maior (bem como a uma azinhaga na freguesia de Alvalade) e é a padroeira dos oftalmologistas e das pessoas com problemas de visão. Já Santa Apolónia está presente numa rua da freguesia de São Vicente (e também na Rua da Cruz de Santa Engrácia, na mesma freguesia); é padroeira dos dentistas e das pessoas com dores de dentes.

Na freguesia de Arroios, Santa Bárbara foi homenageada numa rua e num largo. Foi mandada executar pelo próprio pai, que depois terá sido atingido por um trovão, como castigo. É considerada a padroeira das tempestades e das pessoas que lidam com o fogo.

Dando nome a outra rua na freguesia de São Vicente, reza a lenda que Santa Marinha foi engolida pelo demónio, apresentado sob forma de um dragão. Socorrendo-se de um crucifixo, rasgou-lhe a pele para se salvar. É a padroeira das mulheres grávidas.

Em Santa Maria Maior, a Rua de Santa Justa faz referência a uma igreja com o mesmo nome, remetendo para a padroeira de Sevilha e dos artesãos de cerâmica. Santa Justa foi capturada por se ter recusado a vender as suas loiças numa festa pagã. Tornou-se musa de inspiração para quadros de artistas espanhóis, como Goya e Velásquez.

Já deu nome a uma freguesia  e permanece como rua: por ter enfrentado o governador de Saragoça, Santa Engrácia foi torturada e abandonada à morte.

Também Santa Catarina já foi nome de uma freguesia da capital – em sua honra permanecem um miradouro, um pátio, uma rua e uma travessa na atual freguesia da Misericórdia. Catarina de Alexandria converteu-se ao cristianismo e confrontou o Imperador Maxientus, tendo sido presa e decapitada. Hoje é considerada padroeira dos estudantes, dos professores e dos filósofos.

Fotografia © Anton Zelenov.

Trabalho realizado por Dulce Frazão e Ana Cruz, na Unidade Curricular de Produção Jornalística, lecionada por Marisa Torres da Silva, do curso de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Teve como base o dossier Toponímia no Feminino publicado na revista  Faces de Eva (1999-2008), cuja fonte principal foi o Gabinete de Estudos Olisiponenses. A distribuição da toponímia por freguesias, realizada naquele dossier, foi atualizada tendo em conta a nova divisão administrativa.

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