Lisboa das Avenidas Novas

Surgiram na passagem para o século XX e seguem a referência de Paris dos Boulevards: grandes avenidas em xadrez que facilitam o trânsito, carris para elétricos e infra-estrutruras para água, eletricidade e telefone. Os passeios são arborizados e higienizados para que passear se tornasse um hábito urbano.

Os planos de extensão de Lisboa foram concebidos por uma equipa coordenada pelo engenheiro Ressano Garcia, aluno da parisiense École des Ponts et Chaussées, a mais importante escola internacional de urbanistas na segunda metade do século XIX. A partir de 1877, essa equipa delineou não só o Plano das Avenidas Novas (da Avenida da Liberdade ao Campo Grande), mas também novos bairros, como Campo de Ourique e Estefânia, além da extensão da Av. 24 de Julho até Alcântara e a abertura da atual Avenida Almirante Reis.

A partir da Avenida da Liberdade, inaugurada em 1885, surgiram novos bairros: o aristocrático bairro Barata Salgueiro, depois da velha Rua do Salitre, cujo eixo central será a parte ocidental da Av. Alexandre Herculano; o bairro Camões,  para a média burguesia, tendo como eixo principal a Rua do Conde Redondo; Picoas, ao longo da Av. Fontes Pereira de Melo, o bairro onde serão edificados o Liceu Camões e a Maternidade Alfredo da Costa, esta já no período republicano.

É após a rotunda do Duque de Saldanha (um dos militares mais importantes das guerras liberais) que se abrem as «Avenidas Novas», centralizadas pela Av. Ressano Garcia (agora Avenida da República), ladeada pela Av. António Avellar (atual 5 de Outubro) e Pinto Coelho (agora Defensores de Chaves). Incluíam avenidas perpendiculares a estas, até ao Campo Pequeno e à Praça de Entrecampos.

A história da expansão da cidade pelas Avenidas Novas está sintetizada no artigo “Das Avenidas Novas à Avenida de Berna”, de Raquel Henriques da Silva. Para a docente e investigadora da NOVA FCSH, o excelente desenho urbano das Avenidas Novas não encontrou correspondência na arquitetura.

A excessiva liberdade “num tempo de arquitetura eclética”, a falta de normas de edificação (ao nível da dimensão dos lotes e das cérceas) e ausência de meios de investimento conduziram a uma grande heterogeneidade dos edifícios, entre palacetes com amplos jardins, prédios de alto standing, a par de outros mais modestos, idênticos ao que se construíam em bairros populares. Por isso, quando começou a pressão urbanística para instalar empresas e escritórios nas Avenidas, muitas das primeiras construções foram demolidas.

Explore os roteiros “Descendo as Avenidas Novas” e “Subindo as Avenidas Novas“.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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