São cerca de 10 minutos o percurso a pé pela Rua Gomes Freire, que começa no Campo Mártires da Pátria e acaba quase na Praça José Fontana. No entanto, a Lisboa de Gomes Freire de Andrade (1757-1817) era, em finais do século XVIII, uma cidade em recuperação, retrata uma historiadora da NOVA FCSH.
A Rua Gomes Freire deve-lhe o nome pelo seu percurso militar a favor dos ideais liberais num contexto de opressão em Portugal: entre várias missões, participou, em 1803, nos motins de Campo de Ourique que levariam à Revolução Liberal de 1820. Três anos antes, em 1817, num período em que o rei D. João VI se encontrava no Brasil e o exército português era comandado pelo general inglês Beresford, Gomes Freire e os seus companheiros foram acusados de conspiração contra Beresford – um episódio que ficou conhecido como a Conspiração de 1817 – e foram nesse ano considerados traidores da pátria e executados por enforcamento. Anos mais tarde, a sentença de Gomes Freire e dos seus companheiros foi anulada e passaram a ser considerados “mártires da pátria”, dando nome ao anteriormente designado Campo Santana, onde começa a Rua Gomes Freire.
Mas como era então a Lisboa de Gomes Freire? Gomes Freire de Andrade nasceu a 27 de janeiro de 1757 em Viena de Áustria, filho de um embaixador de Portugal em Viena. Só com 24 anos, em 1781, chegou a Lisboa. Nessa altura, escreve Eunice Relvas, investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC) da NOVA FCSH, em A Lisboa de Gomes Freire (1781-1817), que o jovem encontrou “ruas estreitas, tortuosas, enlameadas e sujas”, fruto de uma cidade ainda a recuperar lentamente do Terramoto de 1755, com falta de iluminação, higiene, segurança e povoada por escravos e mendigos.
Em 1790, Lisboa tinha cerca de 131 mil habitantes e desenvolvia-se na sua extensão, explica a investigadora, à beira-rio da antiga ponte de Alcântara até ao Convento de Santos-o-Novo e, em largura, da Praça do Comércio até São Sebastião da Pedreira. A cidade edificada encontrava-se junto ao rio Tejo.
A vida militar de Gomes Freire não o permitiu viver por muito tempo em Lisboa, mas sabe-se que entre 1798 e 18o0 residiu na Rua da Quintinha, então uma das novas artérias de Lisboa, próxima da Rua de São Bento; entre 1801 e 1807, morou na zona do Calvário, provavelmente uma casa alugada no antigo Paço Real do Calvário, sugere a investigadora. Ainda residiu no Lumiar e na Graça, mas foi na Rua do Salitre, perto do chafariz do Rato, a sua derradeira morada, que na madrugada de 26 de maio de 1817 foi detido.
Fotografia de destaque: Plano Geral da Cidade de Lisboa em 1785. Org. Augusto Vieira da Silva. 1950. Lisboa: Câmara Municipal. CML/DMC/DPC/GEO/MP00056.