Foi o responsável por um dos projetos mais emblemáticos de Lisboa: a Praça de Touros do Campo Pequeno. Elementos como o tijolo avermelhado e um toque de romantismo dão corpo e vida àquele que é hoje um ponto de visita obrigatório nas Avenidas Novas.
António José Dias da Silva nasceu em Lisboa (1848-1912) no seio de influências artísticas transmitidas pelo pai, o pintor José António Dias da Silva. Concluiu o curso de Arquitetura em 1868 e começou a trabalhar com o arquiteto Miguel Evaristo no acompanhamento de dois edifícios bem conhecidos: o Teatro da Trindade, em Lisboa, e a Casa dos Duques de Palmela, em Cascais.
Mas foi com a entrada para os quadros técnicos do Município de Lisboa, em 1872, que o percurso do arquiteto iria tropeçar no desenho de uma das obras mais emblemáticas da cidade. É nomeado desenhador de primeira classe da Repartição Técnica em 1883 e é nesta qualidade que aceita o projeto para a Praça de Touros no Campo Pequeno, a sua obra mais conhecida, escrevem Raquel Henriques da Silva e Margarida Elias, investigadoras do Instituto de História de Arte (IHA) da NOVA FCSH, neste artigo (2020).
A Casa Pia, responsável pela organização de eventos de tauromaquia, mandou construir uma nova praça de touros em 1888 e a Câmara Municipal de Lisboa cedeu gratuitamente o espaço localizado no Campo Pequeno. Ali perto, iriam nascer as Avenidas Novas, fruto do trabalho de Frederico Ressano Garcia: “A nova praça no Campo Pequeno tornava-se parte integrante do plano das Avenidas Novas, que nesta altura estava a acabar de ser projectado”, escrevem as investigadoras. E a ideia de construção da Casa Pia era a de edificar uma praça com os traços semelhantes à da Praça da Carretera de Aragón, em Madrid, posteriormente demolida em 1934.
A entidade requereu ao Hospital Geral de Madrid uma cópia do projeto da praça de touros da cidade, que deu entrada em 1889. Nesse mesmo ano, o plano de urbanização foi aceite. O plano madrileno foi enviado para a Repartição Técnica da Câmara, devido às cláusulas da cedência do terreno, e o projeto encontrou as mãos de Dias da Silva. O arquiteto, contam as investigadoras, prestou-se a fazer o orçamento do projeto gratuitamente.
“Dias da Silva realizou o projeto de arquitetura, depois de conhecer e também se distanciar do desenho espanhol”, explicam. Nesse mesmo ano, em setembro de 1889, o arquiteto entrega o projeto final, aprovado no ano a seguir pelo Ministério da Instrução Pública e Belas Artes. O detalhe e o pormenor cativaram os decisores: “(…) digno de nota, pois foi efectuado com grande detalhe, tendo 126 condições, que cumpriam os formulários habituais em relação aos materiais, dando também indicações para diversos elementos da construção e até para o mobiliário”.
Apesar dos desentendimentos que teve com o fiscal responsável pela construção na fase final, Dias da Silva acompanhou de perto a construção ao ir residir para uma casa no Campo Pequeno. Em 1892, a obra foi inaugurada. A Praça de Touros do Campo Pequeno, um edifício neoárabe e estética mourisca, detém uma originalidade e “um revivalismo estilístico de matriz romântica, com elementos de modernidade, expressos no tijolo e no ferro que materialmente lhe dão corpo”. A construção “produz um efeito simultaneamente monumental e feérico” nas Avenidas Novas.
Apesar de a Praça de Touros ter sido a sua obra mais marcante, também são atribuídas a Dias da Silva uma moradia na Rua do Conde de Redondo, em estilo neoárabe e uma habitação na Rua José Estevão, em Lisboa. Ligado à CML, acompanhou e coordenou obras como a escadaria nobre dos Paços do Concelho e ainda o túmulo dos bombeiros no cemitério dos Prazeres.
Fotografia de destaque: Praça de touros do Campo Pequeno. Créditos: iStock