Os edifícios desta longa avenida testemunham as várias épocas de crescimento urbano do último século, à medida que a cidade se foi expandido para norte, como mostra o projeto Atlas da Almirante Reis.
É uma das avenidas mais extensas de Lisboa, com 2,8 quilómetros. Surge no prolongamento da Rua da Palma, no Martim Moniz, e estende-se até ao Areeiro. Como apontam os autores deste estudo (2017), é como se fosse uma linha cronológica que permite observar “a ocupação da cidade no último século, em termos arquitetónicos, históricos e socioeconómicos”.
As primeiras conclusões resultantes do trabalho de campo permitem perceber que esta área da cidade continua a ter uma forte componente residencial, ao contrário do que aconteceu noutras áreas de Lisboa, sobretudo nas últimas décadas do século XX, quando as zonas mais centrais foram fortemente ocupadas por escritórios e outros serviços.
Na Almirante Reis, a habitação coexiste com uma intensa atividade comercial que ocupa grande parte dos pisos térreos dos seus edifícios. No entanto, a artéria foi mudando de feição nas últimas décadas: diminuiu a especialização patente nas lojas de mobiliário e aumentou o comércio de proximidade bem como o número de estabelecimentos hoteleiros e similares.
Há diversos dados históricos que ajudam a perceber o carácter desta avenida. “A partir do século XIX, a expansão da cidade para norte processou-se ao longo de dois eixos (Avenida da Liberdade e Avenida Almirante Reis), mas a sua evolução foi marcada por elementos de morfogéneses distintas”, escrevem os autores deste estudo, Teresa Santos, Nuno Soares, Filipa Ramalhete e Raquel Vicente. “A Avenida da Liberdade corresponde ao prolongamento natural da expansão da ‘Baixa Rica’ (Chiado, Rua do Ouro, Rossio); o eixo Rua da Palma/Avenida Almirante Reis é a continuação da ‘Baixa Pobre’ (Praça da Figueira, Rua dos Fanqueiros).”
As obras para a sua construção começaram em 1892, mas já em 1887 havia uma vontade manifesta de alargar a Rua Nova da Palma e a Estrada de Sacavém, que seria a futura Almirante Reis. Era reconhecida a necessidade de abrir “um eixo de comunicação entre o centro da cidade e a zona rural a nordeste de Lisboa, nomeadamente para o abastecimento dos mercados da cidade”, lê-se no estudo.
Construída na linha de água que desagua a nordeste, na Baixa, foi batizada em 1910 com o apelido de um dos heróis da implantação da República, Carlos Cândido dos Reis. O topónimo Almirante Reis, muito comum a outras localidades do país, sucedeu à designação de Dona Amélia, a sua nomenclatura desde 1903 que invocava o nome da rainha.
Este estudo apresenta os primeiros resultados do projeto de investigação Atlas da Almirante Reis que visa contribuir “para a caracterização da recente dinâmica espacial de Lisboa, nomeadamente no que diz respeito às alterações na estrutura demográfica e económica e à sua relação com as transformações na arquitetura da cidade”.
A equipa deste projeto é inter-universitária. Teresa Santos, Nuno Soares e Filipa Ramalhete são investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da NOVA FCSH (CICS.NOVA). Filipa Ramalhete está também ligada ao Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa (CEACT-UAL), a que pertence Raquel Vicente.
Fotografia: Avenida Almirante Reis em 1907. Fotografia de Joshua Benoliel (Arquivo Fotográfico de Lisboa).