Foi nos campos de Alvalade que se experimentou um novo programa de habitação económica com base nos trabalhos preliminares de De Groer, iniciados em 1938, que conduziriam ao Plano Diretor da Cidade de Lisboa.
Os bairros construídos em Lisboa nas primeiras décadas do século XX tinham dois fins distintos: ou se destinavam à média e alta burguesia, localizados nas novas avenidas, ou à pequena burguesia, em zonas periféricas. Ao mesmo tempo, apareciam as chamadas “casas económicas”, isentas de contribuição predial e taxa camarária durante os primeiros 10 anos. Todas estas soluções acabavam por separar os lisboetas consoante o seu poder económico.
No entanto, o bairro de Alvalade, delimitado a Norte pela Av. do Brasil (antiga Av. Alferes Malheiro), a Este pelo prolongamento da Av. Almirante Reis, a Sul pela Linha férrea e a Oeste o Campo Grande, acabou por ser uma “cidade dentro da cidade” com um leque de moradores de diferentes classes, conta Margarida Acciaiuoli, da NOVA FCSH, no livro “Casas com Escritos – Uma História da Habitação em Lisboa” (Ed. Bizâncio, 2015).
Além de habitações coletivas com renda limitada para alojar 31.374 habitantes, o plano do bairro previu a construção de 9.500 fogos de renda não limitada, duas mil moradias unifamiliares de renda económica e 2.500 moradias unifamiliares de renda não limitada. A este regime de coabitação juntaram-se uma igreja, um centro cívico, várias escolas primárias e uma preparatória, estabelecendo uma relação pioneira entre a casa e a escola.
Este processo de autonomização do bairro de Alvalade foi sendo consolidado com espaços de comércio e lazer, em particular dedicados à sétima arte. O cinema Alvalade é inaugurado em 1953 e o cinema Roma em 1957; seguem-se o cinema Vox (1969), o Londres (1972) e o Quarteto (1975). A Avenida de Roma torna-se numa artéria cosmopolita, servida pelo metropolitano (que se estendeu a Alvalade em 1972), com pastelarias emblemáticas, sapatarias, livrarias e até um pronto-a-vestir – A Maçã – da conhecida criadora Ana Salazar.