A desobriga pascal – confissão obrigatória da população por altura da Páscoa – permitiu em 1801 fazer a primeira contagem populacional próxima do conceito moderno de recenseamento.
Os róis de confessados eram elaborados anualmente pelo clero paroquial. Estas listas de paroquianos que cumpriam a sua obrigação pascal incluíam também os indivíduos que, pelo seu estatuto, condição ou profissão, não se tinham confessado e os respetivos motivos. São dados que, embora dependentes da fiabilidade desses róis, permitem hoje conhecer a demografia, a religiosidade e a mobilidade das populações no princípio do século XIX.
Os dados do Censo de 1801 revelam que, no caso da diocese de Lisboa, 459.317 habitantes cumpriram a sua obrigação pascal e 7.964 (1,7%) faltaram. Lisboa, à data, era a segunda maior diocese do país (Braga liderava com 656.418 habitantes). Do rol de ausentes lisboetas, 71% eram homens, número que se explica pelo facto de, por exemplo, estarem ausentes da freguesia em trabalho, pertencerem ao próprio clero, cumprirem serviço militar, serem vagabundos, pescadores ou estarem em litígio com o pároco.
A ausência da freguesia, motivo comum a homens e mulheres para a falta à desobriga pascal, é também um indicador dos movimentos migratórios que se faziam, no geral, de Norte para a capital e Alentejo.
Explore mais tendências reveladas pelo Censo de 1801 neste artigo de Daniel Alves, historiador da NOVA FCSH.
Legenda da imagem: mapa geral da cidade de Lisboa em 1812. Créditos: Biblioteca Nacional de Portugal.