“Devolver ao Olhar” o que ainda está por revelar nestes azulejos dedicados a Maria Madalena

O Museu Nacional do Azulejo (MNAz) tem por revelar um conjunto de painéis muito peculiares: medem cerca de 17 metros de altura, são a maior série de azulejos dedicados a Santa Maria Madalena e ainda há partes que não se conseguiram identificar.

As cores, como o verde e o violeta – e não só o típico azul sobre branco da azulejaria –, surgem num conjunto de azulejos com mais de 17 metros de altura, a maior coletânea até hoje conhecida dedicada a Maria Madalena. São 34 azulejos no total, em duas séries sequenciais, pertencentes ao chamado o período da “Grande Produção”. Mas nem todas as cenas foram identificadas.

Este conjunto data da primeira metade do século XVIII e foi alvo de atenção para profissionais da área, entre os quais Alexandre Pais, investigador do Centro de Humanidades (CHAM) da NOVA FCSH e do Museu Nacional do Azulejo (MNAz), que dedicou um artigo científico (2011) a estes painéis que integram o “Fundo Antigo” do MNAz.  Neste repositório encontram-se painéis e azulejos cuja incorporação é de origem desconhecida, resultado da extinção de Ordens religiosas e de outros fatores que ocorreram durante o século XX.

Devido à altura dos painéis estudados, o investigador assume que é possível que estivessem destinadas a uma igreja ou a uma capela, também percetível pelo corte dos azulejos, de modo a encaixar em portas ou no púlpito.

No “Jardim das Rosas”, ilustrado com cores, há passagens dos “Mistérios do Rosário”, tal como em todos os painéis identificados, numa “representação original” e, até à data, “única na azulejaria, da devoção do rosário”.

As estas cenas juntam-se outras de religiosidade, diferentes entre si, mas dedicadas à hagiografia de Santa Maria Madalena, o que é surpreendente: “Também esta iconografia é invulgar, pois é, aparentemente, a maior série conhecida, em azulejo, dedicada à figura da discípula de Cristo, a primeira a quem Ele surgiu aquando da sua aparição inicial”, escreve o investigador.

Mas qual a origem destes azulejos? No livro Azulejaria do século XVIII, de João Miguel dos Santos Simões, o autor refere que este conjunto estava na “Sala de Reuniões-Biblioteca”, no edifício do Estado Maior do Exército, no Largo do Museu da Artilharia, em Santa Apolónia.

No entanto, não há memória de este conjunto ter estado na localização cedida por Santos Simões, mas “não é de excluir, no entanto, ter-se perdido essa memória e terem, de facto, existido alguns painéis desta série nesse local”, refere o investigador.

Há, no entanto, três possibilidades de localização, propostas no artigo de Alexandre Pais: a Igreja de Santa Apolónia, demolida em 1852, apesar de não terem nenhuma evidência de cerâmica; a Igreja do Conventinho do Desagravo, situado na antiga freguesia de Santa Engrácia, em que há registo de, em 1932, terem sido arrancados “belos azulejos – o que lhe restava – e levados para uma igreja da província”, escreveu o escritor Norberto Araújo; e a Ermida de Nossa Senhora do Rosário, parcialmente ocultada pela Calçada do Museu da Artilharia.

Ainda existem questões por responder dado que este conjunto é, na opinião do investigador, “um dos mais extraordinários revestimentos azulejares do chamado período da «Grande Produção»”. O restauro e identificação deste conjunto e de outros painéis e azulejos foi fruto de um projeto financiado com o nome “Devolver ao Olhar”, que teve início em 2009 e terminou no final de 2013, e que contou com a colaboração do programa de voluntários do MNAz.

Fotografia: “1.º Mistério Glorioso” ou”Ressurreição”, Fons Vitae e “2.º Mistério Glorioso” ou “Pentecostes”. Retirado do artigo do investigador.

Escrito por
Beatriz Afonso e Carolina Bento
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