A televisão acompanha os portugueses desde 1957. A RTP, com sede em Lisboa, foi a primeira a transmitir programas que se tornaram emblemáticos no panorama musical, como o Festival da Canção e No Mundo da Música. Com eles o modelo de produção musical para televisão afastou-se definitivamente do da rádio.
A produção musical é o denominador comum da rádio e da televisão no artigo (2014) de João Ricardo Pinto, investigador colaborador do Instituto de Etnomusicologia e Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md) da NOVA FCSH, onde compara estes formatos nos anos de 1940 a 1964.
A “caixa mágica” chegou a Portugal em 1957 com as primeiras emissões da RTP. A rádio e a televisão tiveram um papel muito importante na divulgação de programas musicais por todo o país porque “permitiram difundir a música a um maior número de pessoas e em espaços onde dificilmente chegaria de outra forma”, refere o investigador. No entanto, até 1958, não houve nenhuma distinção entre o modelo de produção musical utilizado por estes dois meios de comunicação. Mas o panorama estava prestes a mudar.
O ano de 1958 marca o início do afastamento da televisão da rádio, com a decisão da RTP em adquirir carros para as emissões exteriores. Foi assim que a televisão começou a transmitir, em direto, concertos sem ser no estúdio da estação. A partir daquelas emissões, os espectadores podiam ver concertos em espaços nem sempre acessíveis, como o Casino do Estoril, o Teatro Nacional de São Carlos, o Pavilhão dos Desportos e o Coliseu dos Recreios.
No mesmo ano, a RTP transmite dois programas de cariz musical que iam “muito além de mostrar o artista ou o grupo musical”. São eles A Construção da Música e O Mundo da Música (posteriormente intitulado No Mundo da Música), escritos e produzidos pelo maestro José Atalaya em que “para além do momento da execução musical, eram realizados apontamentos biográficos dos compositores recorrendo a imagens dos mesmos” e eram ainda dadas informações sobre a peça acompanhadas, por vezes, de legendas.
O aumento das horas diárias também influenciou o distanciamento do modelo da rádio, o que também tornou desafiante o trabalho na televisão, explica o investigador: “Todos estes fatores tornaram o trabalho na RTP mais exigente a nível criativo, na procura de novos conteúdos para preencher mais horas de emissão, e que abrangessem um público televisivo cada vez mais exigente e mais heterogéneo”.
A Eurovisão entra, assim, na vida dos portugueses em 1959 e a Mundivisão em julho de 1962, em plena ditadura, mas que permitiu “uma maior troca de conteúdos televisivos entre a RTP e outras estações estrangeiras”. Como só existia uma única transmissão dos programas, a população começa a ajustar os horários para assistir à grelha de programação da RTP. Daí que se diga, como afirma o investigador, que “o país parava” quando determinadas emissões passavam na televisão.
A RTP fez com que Portugal se abrisse a novas maneiras de consumo e se deixasse influenciar pela produção musical transmitida, quer a nacional, quer a internacional. Um exemplo que o investigador dá é o caso do Twist, que só foi “possível pela importância que a imagem teve na difusão de uma música muito associada à dança”. Se a imprensa apontava o fim da rádio e do cinema, a verdade é que os meios de comunicação se adaptaram, cada um à sua maneira, conclui o investigador.