O “Grupo do Leão”: a maior homenagem que Columbano Bordalo Pinheiro fez aos artistas

Numa das paredes do restaurante Leão d’Ouro, no Rossio, ainda é possível admirar uma reprodução do óleo sobre tela onde estão representados alguns pintores que pertenceram ao emblemático “Grupo de Leão”. Eça de Queiroz considerou-a o melhor trabalho de Columbano Bordalo Pinheiro.

O original, que está agora no Museu do Chiado, foi pintado em 1885 e retrata o grupo de pintores e intelectuais, incluindo o próprio Columbano Bordalo Pinheiro, que se reunia na então Cervejaria Leão de Ouro para trocar ideias e planear exposições, relata Margarida Elias neste artigo (2008).

Os pintores Silva Porto, João Vaz, António Ramalho, Ribeiro Cristino, o caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro, o ator João Anastácio Rosa, os escritores Fialho de Almeida e Abel Botelho ou o poeta Bulhão Pato foram alguns dos membros iniciais daquele que ficou conhecido como o “Grupo do Leão”. Columbano juntou-se quando regressou de Paris, em 1883.

A história da encomenda do quadro foi contada por vários dos seus contemporâneos. Numa noite de reunião do grupo no café da altura, constou que o estabelecimento iria encerrar, porque um dos co-proprietários iria abrir um café ao lado. Os intelectuais perguntaram ao criado que os servia onde é que iria continuar a trabalhar. “Continuaríamos a reunir aonde ele continuasse a servir”, conta Ribeiro Cristino, citado no artigo. O criado foi para o novo estabelecimento, um restaurante, e o grupo decidiu que cada membro pintaria um quadro ou ornamento para decorá-lo.

O novo estabelecimento, que persiste até hoje na Rua 1º de Dezembro, ganhou o nome de “Leão d’Ouro” e recebeu vários “presentes” dos artistas: Leandro Braga entalhou um leão dourado, José Malhoa, Ribeiro Cristino e Silva Porto criaram pinturas de paisagem e até a irmã de Columbano, Maria Augusta Bordalo Pinheiro, bordou um leão para o reposteiro. Porém, foi a pintura do “Grupo do Leão”, posta à entrada do estabelecimento, no lado esquerdo, que ganhou fama e a aclamação da crítica.

A génese da pintura é, segundo Margarida Elias, a dos retratos holandeses do século XVII, “pelas poses e enquadramento, mas figurando os membros do Grupo com alguma ironia, ao estilo de Eça de Queirós nas suas descrições da sociedade portuguesa”, descreve. “Temos a impressão que Columbano procurou captar um momento real, como se o pintor (ou pretenso fotógrafo) tivesse interrompido uma reunião habitual”, acrescenta.

Na pintura, figura ao centro Silva Porto, rodeado pelos pintores António Ramalho, João Vaz, Henrique Pinto, Ribeiro Cristino, Cipriano Martins, José Malhoa, Moura Girão, Rodrigues Vieira e o próprio Columbano. Foram os criadores do naturalismo português, movimento liderado por Silva Porto. Aparecem ainda no quadro Rafael Bordalo Pinheiro, Alberto de Oliveira, o criado Manuel Fidalgo e um desconhecido, que alguns apontam como sendo mais um criado da Cervejaria Leão D’Ouro.

A obra original ficou exposta no estabelecimento até 1945, tendo sido posteriormente adquirida pelo Estado em leilão.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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