Marquises de estimação

Começaram a povoar as fachadas de vários prédios lisboetas na década de 1970 e rapidamente se tornaram moda. Mal-amadas por quem as vê, são estimadas pelos proprietários que assim conquistam as varandas para o interior das suas habitações.

As marquises começaram a proliferar em Lisboa nos anos 1970, devido à normalização da construção em betão armado que permitia varandas mais largas e profundas, compensando a anexação do espaço, descreve Bernardo Fernandes na sua tese de mestrado em Sociologia da NOVA FCSH (2016), onde explora o imaginário e as conquistas deste “território doméstico”.

A mudança do título de propriedade foi outra razão de peso: aqueles que eram arrendatários passaram a ser “donos” da sua casa, podendo adaptar o espaço à sua vontade e ignorando as regras estabelecidas pelos seus municípios.

Bernardo Fernandes defende que a construção de marquises para ganhar espaço se relaciona com as próprias vivências: os proprietários são “tendencialmente praticantes de interior”. As suas atividades culturais decorrem sobretudo no seio do lar, o que ajuda a justificar o “interesse em estabelecer em ambiente doméstico dinâmicas de bem-estar e conforto, já que grande parte do tempo é passado dentro de casa”.

Nesse ambiente, as marquises aparecem transformadas em escritórios, zona de arrumos, salas de costura, ateliês de pintura, espaços de bricolage ou mesmo zonas de estar. Surgem como zona de transição entre o espaço interior e o exterior, o que leva o investigador a usar a expressão “estratégias de aproximação”: a marquise torna-se “uma zona confortável de observação do exterior” e uma forma “de estar em ‘contacto’ com quem passa e com o que se passa na rua”.

É de registar também que a climatização foi uma das razões referidas para fechar as varandas. Muitos proprietários consideram que poupam energia, quando na verdade as marquises pioram o comportamento térmico da casa: demasiado quentes no verão e o oposto no inverno.

Fotografia: Lumiar (SkyscraperCity).

Escrito por
Alda Rocha
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