O imaginário turístico de Portugal no Estado Novo

Em 1936, Lisboa acolheu o I Congresso Nacional de Turismo, organizado pelo Secretariado de Propaganda Nacional. O Estado Novo queria que os turistas pudessem usufruir da ordem, da tranquilidade e dos monumentos de um país recentemente reerguido graças ao homem que conduzia o leme: António Oliveira Salazar.

As seis sessões do Congresso, que tiveram lugar na Sociedade de Geografia de Lisboa, entre 12 e 16 de janeiro de 1936, abordaram a escassez quantitativa e qualitativa do parque hoteleiro nacional, a necessidade de formar profissionais e a falta de diversificação dos produtos turísticos. Mas o I Congresso Nacional de Turismo foi também palco de elogios a Oliveira Salazar e ao novo regime que, na opinião dos delegados, restituíra a ordem e a tranquilidade a um país que poderia ser agora promovido ao mundo.

O novo regime político parecia querer preservar e divulgar o património nacional cultural e imaterial. No entanto, estes “imaginários turísticos” que o Estado Novo idealizava eram, na verdade, “imaginários ideológicos” e o turismo era mais um instrumento ao serviço da propaganda do regime. “Seria, na ótica do regime, um instrumento de propaganda tão válido como qualquer outro para a propagação da sua ideologia de modo assaz subreptício e difícil de detetar”, salienta Cândida Cadavez, investigadora do Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH, neste artigo.

Prova disso é que em 1940 o turismo passa oficialmente para o pelouro do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), embora já o fosse tecnicamente pela proatividade de António Ferro, que assumira a direção em 1933 e se focara no turismo. Nessa linha, em 1944, esse Secretariado muda a sua designação para Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo, inserido numa estratégia de criação de imaginários da nação.

Para atrair turistas nacionais, o Estado Novo criou dois instrumentos: um programa de Pousadas nacionais e a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT).

A primeira Pousada, em Elvas, foi inaugurada em 1942 e exemplificava o que se esperava de uma unidade hoteleira: asseada, simples e confortável. Em 1941, o SPN edita A Cartilha da Hospedagem Portuguesa, onde constavam os padrões pelos quais as infraestruturas de acolhimento deveriam pautar a sua atividade.

Por sua vez, a FNAT incluía passeios e excursões a locais significativos da “História” proferida pelo regime, como Guimarães, o berço da nacionalidade.

Para atrair turistas estrangeiros, o Estado Novo apostou na promoção da Costa do Sol, nas imediações de Lisboa. Era um destino de luxo e sofisticação, com atividades ao ar livre, ao qual se tinha acesso por uma estrada marginal ou por uma linha de comboio com ligação direta a Paris, “que não deixavam ver a pobreza e a degradação existentes em zonas mais afastadas da costa”, salienta a investigadora. Este imaginário turístico exibia uma nação acolhedora e em paz que acolhia quem queria livrar-se dos constrangimentos causados pela II Guerra Mundial e pela Guerra Civil Espanhola.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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