Aproveitando o tricentenário da morte de Luís de Camões, um grupo de comerciantes funda em 1880 o Ateneu Comercial de Lisboa para democratizar o acesso à cultura e ao ensino. Hoje, a associação luta pela sobrevivência.
O busto do poeta que inspirou a fundação do Ateneu ainda está lá, mas é das poucas recordações que restam do protagonismo que a instituição teve em finais do século XIX e durante o século XX. O Palácio dos Condes de Povolide, adquirido pelo Conde Burnay, foi alugado em 1895 ao Ateneu, depois de esta instituição ter abandonado a ideia de um edifício próprio que seria projetado pelo veneziano Nicola Bigaglia. Está hoje em avançado estado de degradação. A classificação de Entidade de Utilidade Pública, atribuída em 1926, é, nas próprias palavras do Ateneu Comercial de Lisboa, apenas um título honorífico.
Outrora ex-libris da Rua das Portas de Santo Antão, os fragmentos da sua história estão reunidos na tese de mestrado em História Contemporânea da NOVA FCSH (1997) que Manuel Villaverde dedicou a esta rua, com o título “A Evolução de Lisboa e a Rua das Portas de Santo Antão (1879-1926)”.
Para fazer jus aos seus objetivos – “proporcionar aos seus associados a prática de atividades de natureza cultural, recreativa, desportiva e de educação física” (art. 3.º dos Estatutos) – o Ateneu procurou desde a sua fundação um espaço à altura. Após quatro sedes, fixa-se definitivamente no Palácio dos Condes de Povolide. O primeiro andar tinha sala de leitura, biblioteca, três salas de aula e um salão no pavimento nobre destinado a bailes, jogos de bilhar, concertos, saraus, conferências, uma sala de esgrima e outra de ginástica. No segundo pavimento, havia lições de música, cantos e ensaios da tuna. Perpendicular ao palácio e à rua, situava-se o edifício do ginásio.
Téofilo Braga, Manuel de Arriaga e Miguel Bombarda foram alguns dos conferencistas que por lá passaram. A conferência realizada em 1899 pela Liga de Artes Gráficas, de homenagem a Émile Zola e ao seu apoio a Dreyfuss, uma série de conferências públicas da “Liga Nacional contra a Tuberculose”, acompanhada de um curso de higiene popular, em 1901, ou exposições de flores, rendas de Peniche e de Maria Augusta Bordalo Pinheiro – visitada em 1897 pelos reis D. Carlos e D. Amélia – são exemplos de atividades que puseram o Ateneu na agenda da cultura e da educação do século XX.
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