Cenário de vários estigmas, o Casal Ventoso é retratado negativamente desde a sua origem e não apenas pelo olhar dos media atuais.
Considerado um bom exemplo no início da sua edificação, nos primeiros anos do século XX, o Casal Ventoso, que se estendia ao longo de uma encosta do Vale de Alcântara, rapidamente começou a ser associado a problemas sociais. Até 1950, o estigma foi sendo formado em torno da miséria. É descrito em abril de 1934 como uma “mancha de pobreza vergonhosa”, num artigo publicado no Diário de Notícias, dada a ausência de acessos, despejo de lixo e lamaçais. Surge noutras fontes associado a pobreza material e espiritual, promiscuidade sexual e descristianização por não existir uma capela no bairro. Os seus habitantes, a maior parte operários fabris, eram vistos como pouco cívicos e próximos dos ideais políticos comunistas subversivos.
Na segunda metade do século XX, o bairro foi elevado a lugar de delinquência e de atividades ilegais, culminando na década de 1990 no estigma da droga, que alcançou mediatismo nacional. Isso aconteceu não só pela opinião generalizada de políticos, médicos e público em geral de que a droga era o novo problema social e moral, mas também pelos media, que converteram o Casal Ventoso em objecto jornalístico, reproduzindo os seus estigmas.
Este processo de estigmatização do Casal Ventoso é explorado no artigo “O estigma como espelho: notas sobre a deterioração de uma identidade territorializada” (1999), de Miguel Chaves, sociólogo na NOV FCSH.
O Casal Ventoso foi, já no século XXI, objeto de reconversão social. A sua população foi realojada em habitação social construída ao longo da Avenida de Ceuta, num processo que terminou em fevereiro de 1999.
Legenda da imagem: Casa Ventoso. Fotografia de Fernando Costa.