Pioneirismo no feminino em ruas de Lisboa

Sabe quem foi a primeira mulher portuguesa a falar em público? E a primeira a usar o próprio nome em vez de um pseudónimo masculino num jornal? Descubra seis mulheres pioneiras, cujos feitos marcaram a história e  deram nomes a ruas de Lisboa.

Em cinco séculos, estas seis mulheres destacaram-se pela ousadia de desafiar uma sociedade dominada pelo sexo oposto. Pela sua coragem, Públia Hortênsia de Castro, Antónia Pusich, Carolina Beatriz Ângelo, Maria Amália Vaz de Carvalho, Sara Afonso e Maria de Lourdes Pintassilgo ficaram gravadas na toponímia da capital.

O seu brilhantismo intelectual foi homenageado em 1978 pela Câmara de Lisboa, que lhe atribuiu uma rua na urbanização da Quinta da Luz, na freguesia de Carnide. No entanto, já no século XVI, Públia Hortênsia de Castro (1548-1595) era reconhecida pelo seu intelecto. Estudou Filosofia em Évora e, aos 17 anos, foi para Coimbra estudar Retórica, Humanidades e Metafísica. Teve de usar roupas masculinas, mas acabou por ser a primeira mulher a discursar em público ao defender a sua tese na presença de Filipe II.

Três séculos depois, continuava a ser habitual as mulheres esconderem-se atrás de identidades masculinas para verem o seu trabalho reconhecido. Antónia Pusich (1805-1883) foi a primeira a assumir o seu próprio nome, que colocou no cabeçalho de várias publicações periódicas, nas quais era jornalista e diretora. O seu nome acabou por também ficar numa rua no bairro de Alvalade sul. Fundou A Cruzada, A Beneficiência e A Assembleia Literária, escreveu livros e peças de teatro. Foi a sua escrita que lhe permitiu sustentar a família.

Em 1911, fez-se história com a primeira mulher a votar em Portugal. A lei permitia o voto aos chefes de família, maiores de 21 anos, que soubessem ler e escrever. Carolina Beatriz Ângelo, então com 34 anos, era viúva e mãe. Solicitou a sua inscrição como eleitora, ganhou o processo em Tribunal e foi-lhe concedido o direito ao voto. Faleceria nesse mesmo ano de 1911. Em 1913, a lei foi reformulada, passando a especificar que apenas os homens poderiam votar. Foram precisos 22 anos para que à mulher fosse concedido este direito. O mérito desta cirurgiã portuguesa (também a primeira nesse campo) não foi retirado e tem o seu nome a uma artéria do bairro de Caselas, em Belém.

Com apenas meses de diferença, a Academia das Ciências de Lisboa recebeu o primeiro elemento do sexo feminino. Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921) foi eleita em 1912, mas nessa altura acumulava já uma longa luta pela causa feminista. Jornalista e escritora, desde o final do séc. XIX escrevia artigos em defesa da criação de um liceu feminino. Em 1885 conseguiu que o rei D. Luís assinasse um decreto de lei a autorizar a sua criação, mas as instalações só se tornaram definitivas no ano letivo de 1933-1934. Foi em 1950 que o seu nome foi também atribuído a uma rua no bairro de Alvalade.

Sara Afonso  (1899-1983) casou com Almada Negreiros, mas não foi por isso que o seu nome foi dado a uma rua de Lisboa, no bairro de Caselas, em Belém. Além de ser pintora e ilustradora, tornou-se a primeira mulher a frequentar uma tertúlia no café A Brasileira no Chiado, uma atividade até então exclusiva do sexo masculino.

Maria de Lourdes Pintassilgo (1930-2004) não foi apenas a primeira, mas a única Primeira-Ministra portuguesa, cargo que desempenhou de agosto de 1979 a janeiro de 1980, tendo sido também a terceira primeira-ministra mulher na história da Europa. A engenheira química lutou também pela emancipação da mulher, pela evangelização e pela solidariedade social. Quatro anos depois da sua morte, em 2008, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu o seu nome de Pintassilgo a uma rua na Alta de Lisboa, na freguesia do Lumiar.

Trabalho realizado por Carolina Branco e Joana Calado na Unidade Curricular de Produção Jornalística, lecionada por Marisa Torres da Silva, do curso de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Teve como base o dossier Toponímia no Feminino publicado na revista  Faces de Eva (1999-2008), cuja fonte principal foi o Gabinete de Estudos Olisiponenses. A distribuição da toponímia por freguesias, realizada naquele dossier, foi atualizada tendo em conta a nova divisão administrativa, de 2012.

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