Perdeu a vida pouco depois de ter saído da direção do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), uma existência de 72 anos pintada com vários rostos. Irmão de Rafael Bordalo Pinheiro, o pintor marcou uma geração e foi um dos responsáveis pelo desenho da bandeira nacional portuguesa.
Aos 72 anos, Columbano Bordalo Pinheiro deixou de ser diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) e foi designado diretor honorário, com direito a uma pensão vitalícia. Corria o ano de 1929, em que no mês de março foi decretada a reforma aos 70 anos. A 6 de novembro, Bordalo Pinheiro faleceu.
Raúl Brandão escreveu que o pintor morreu no dia em que saiu do cargo, dado que gastou todas as suas energias e economias no MNAC e, por causa disso, “nunca mais pôde dormir”. Com efeito, poucos meses separaram a saída e o seu falecimento, menciona Margarida Elias, investigadora do Instituto de História da Arte (IHA) da NOVA FCSH, na entrada do dicionário “Quem é quem na Museologia Portuguesa” (2019).
Columbano Bordalo Pinheiro foi um pintor português que marcou uma geração. Nasceu em Cacilhas a 21 de novembro de 1857 e era irmão de Rafael Bordalo Pinheiro. Os dois pertenceram ao famoso “Grupo do Leão”, onde expôs as suas pinturas durante cinco anos, entre 1885 a 1887. Formou-se em Desenho e Pintura na Escola de Belas-Arte de Lisboa e foi discípulo de Miguel Ângelo Lupi. Prosseguiu estudos em Paris, como bolseiro, e em 1874 começou a expor as suas obras na Sociedade Promotora das Belas-Artes.
Desde cedo o seu trabalho mereceu atenção e foi premiado ao longo dos anos. De traço naturalista e romântico, Bordalo Pinheiro aplicou-se à pintura de naturezas mortas e de história, principalmente recorrendo a temas camonianos. Em 1880 começou a dedicar-se à pintura de retratos “com o qual se notabilizou, tendo figurado eminentes da intelectualidade portuguesa”, escreve a investigadora.
Entre vários trabalhos e obras, Bordalo Pinheiro foi um dos responsáveis pelo desenho da Bandeira Nacional após a Implantação da República. Depois de ser aluno, tornou-se professor na Escola de Belas-Artes de Lisboa durante mais de 20 anos e desempenhou funções como presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, de 1902 a 1914.
Nesse mesmo ano, quando saiu da presidência da sociedade, foi apontado para o cargo de diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) para substituir Carlos Reis. Vai ser esta função a preencher Columbano Bordalo Pinheiro até ao fim dos seus dias. Começa por fazer obras de melhoramento em conjunto com o arquiteto José Luís Monteiro e não só a estrutura física foi melhorada, como também a organização e a aquisição de obras de arte.
Bordalo Pinheiro “mandou proceder à reprodução fotográfica das ‘mais importantes’ obras expostas no museu, querendo fazer um catálogo” para divulgar o que de melhor a arte portuguesa tinha para oferecer, dentro e fora do país. Numa primeira fase, o museu reabriu em 1916 e mereceu críticas positivas. Noutra fase, o museu voltou a entrar em obras de melhoramento e voltou a reabrir em 1922, merecendo os melhores elogios no jornal A Capital.
Porém, nem todos os comentários foram positivos. Em 1927, o pintor recebeu críticas da direção da Sociedade Nacional de Belas-Artes sobre a sua prestação como diretor do MNAC: “A Comissão Executiva de Arte e Arqueologia defendeu-o e solidarizou-se com ele, considerando que tinha liberdade no arranjo e apresentação do museu” afirma a investigadora.
Dois anos depois, Bordalo Pinheiro deixou a direção do museu e faleceu pouco tempo depois. Para trás, deixou 72 anos de vida e obra, e nove décadas a relembrá-la. Durante a direção do pintor, o MNAC adquiriu pinturas como, entre outras, Retrato da mãe do Dr. Sousa Martins, pintado por Miguel Ângelo Lupi, a Vista da Penha de França (1857), de Tomás da Anunciação, e Outono (1918), de José Malhoa.
Fotografia: Parte do conjunto de cinco painéis “Cenas de baile”, de 1891, de Columbano Bordalo Pinheiro.