Olivais-Sul acolheu cerca de 40 mil pessoas só entre 1960 e 1970, fruto de uma reforma do espaço que tinha em vista os conceitos de família urbana e de proximidade. João Pedro Nunes, investigador do CICS.NOVA, afirma que o bairro foi um “caso exemplar”.
Olivais-Sul, o primeiro bairro industrial de Lisboa, permaneceu durante décadas uma paisagem marcada por fábricas e poluição. Porém, a Lisboa dos meados do século XX exigia uma “expansão para norte”. Só de 1960 a 1970 entraram em Olivais-Sul 40 mil habitantes, que vieram “dar vida nova a um espaço antes dominado por quintas e fábricas”, aponta João Pedro Nunes, investigador do Centro Interdisciplinar de Ciências da Comunicação (CICS.Nova) e autor da tese de mestrado em Sociologia (2000) da NOVA FCSH, editada em livro (2007) sobre o urbanismo em Olivais-Sul na década de 1959 a 1969.
A chegada de milhares de pessoas teve na sua base uma reforma urbana. De facto, a construção de habitações tinha dois objetivos em termos de proximidade: por um lado, a proximidade geográfica da população a estabelecimentos e espaços públicos, como escolas, biblioteca, centros de ação sociocultural, jardins, entre equipamentos; por outro, a proximidade aos outros, quer em relação aos vizinhos, quer aos edifícios. João Pedro Nunes refere que “a orientação urbanistíca era a de reduzir as desigualdades sociais no acesso aos dispositivos territorializados”.
O Decreto Lei nº 42 454/59 (de 18 de agosto de 1959) tinha definido um conjunto de meios e ações que originaram uma mudança na habitação em Lisboa. Criou-se o Gabinete Técnico de Habitação (GTH) para idealizar e pôr em ação a concepção destas habitações – algumas com renda económica –, as obras começaram e um novo bairro nasceu.
Este olhar diferente sobre uma zona com vinco industrial e fabril foi disruptivo à época, depois dos planos de Alvalade e das Avenidas Novas. Uma nova concepção de bairro e de habitação, apoiado pelo Governo, revitalizou Olivais-Sul e, consequentemente, a cidade de Lisboa, no que diz respeito às “oportunidades sociais que oferecia, em especial no quotidiano pós-laboral da futura população habitante de Olivais-Sul”, escreve o investigador. A proximidade entre a população, o fácil acesso a locais públicos e a atenção às desigualdades sociais sentidas na zona tornaram a revitalização da zona de Olivais-Sul na década de 1959 a 1969 “um caso exemplar”, nas palavras de João Pedro Nunes.
A premissa da sustentabilidade deste bairro foi também analisada por Patrícia Névoa na sua tese de mestrado em Gestão do Território da NOVA FCSH (2012), na qual estuda ainda os planos urbanísticos de Alvalade e Telheiras-Sul.