Um dos melhores exemplos de regeneração urbana em Lisboa foi a do Parque das Nações. Contudo, mesmo ao lado, outras áreas da zona ribeirinha oriental, como Beato e Marvila, permaneceram esquecidas. Uma tese de mestrado em Gestão do Território da NOVA FCSH avança com uma proposta para colocá-las novamente no mapa.
A relação porto-cidade remonta às origens de Lisboa, dado o seu posicionamento estratégico junto ao rio Tejo. No entanto, no século XIX, o processo de industrialização e modernização do porto modificou a imagem da cidade, que se demarcou em duas zonas: a ocidental, destinada às classes mais altas, e a frente ribeirinha oriental, onde foi projetado um porto essencialmente comercial, junto ao caminho de ferro e às fábricas, que entretanto se instalavam em Xabregas, Beato e Alcântara. Iria também residir aí a classe operária e com menos rendimentos.
Apesar de o Parque das Nações ter “esbatido a separação entre a cidade e o seu rio” e ser hoje um caso de sucesso de regeneração urbana, esta intervenção não teve, segundo Ana Carina Oliveira, um “efeito de contaminação” na frente ribeirinha oriental, que se apresenta obsoleta e desconexa da dinâmica da restante cidade. A investigadora avança com uma proposta de regeneração urbana das freguesias do Beato e Marvila na sua tese de mestrado em Gestão do Território da NOVA FCSH (2014). Ambas são hoje marcadas por “construções industriais abandonadas e obsoletas, núcleos habitacionais degradados e uma quebra na relação cidade-porto”, afirma.
Para Ana Carina Oliveira, urge resolver os problemas urbanos e sociais de forma a melhorar a qualidade de vida da população residente e atrair investimento económico. É importante também criar atividades lúdico-desportivas e outras atrações para contrariar o crescente envelhecimento dos residentes e aproveitar a mão-de-obra da população desempregada.
A zona ribeirinha oriental de Lisboa é um território com boa exposição solar e vista desafogada. A criação de espaços públicos e de lazer poderá atrair o investimento imobiliário. Para isso, a autora defende parcerias público-privadas para fazer frente a intervenções que dificilmente poderão ser suportadas por uma única entidade.
Por último, a criação de uma imagem de marca da zona, no âmbito de uma estratégia de marketing de cidades, poderá tornar a zona competitiva, atrair turistas e fixar a população.
Imagem: edifício Abel Pereira da Fonseca 1917), projetado por Norte Júnior. Créditos: Pedro Almeida.