Cinema e televisão articulados na visita de Isabel II a Lisboa

A rainha Isabel II de Inglaterra visitou Lisboa e outros pontos do país em fevereiro de 1957, a poucos dias do arranque das emissões televisivas regulares, a 7 de março. Uma investigação em Ciências da Comunicação revela preocupações políticas e técnicas para o êxito da sua cobertura.

A visita decorreu de 18 a 23 de fevereiro, tendo sido um marco político para o salazarismo e uma data importante na história da então emergente RTP – Radiotelevisão Portuguesa.

Enquanto governou o país, Salazar pouco apareceu na televisão da época, tanto no período das emissões experimentais, como depois, nos longos anos que se seguiram até 1968. Contudo, aproveitou este acontecimento de projeção internacional para, estrategicamente, procurar moderar as críticas muito negativas que a comunidade das nações dirigia à política colonial do regime ditatorial.

Era importante assegurar uma imagem favorável do regime numa cobertura televisiva “quase em direto”, como destaca Francisco Rui Cádima, da NOVA FCSH, na sua tese de doutoramento (1993), intitulada O Telejornal e o Sistema Político em Portugal ao Tempo de Salazar e Caetano (1957-1974).

À RTP, ainda em período experimental, coube liderar toda a cobertura do evento, numa Lisboa claramente em festa. Para isso, a empresa recorreu, sobretudo, a profissionais da atividade cinematográfica.

Francisco Rui Cádima descreve assim esse momento na história da televisão em Portugal que contou com a experiência de profissionais do cinema:

“Não fossem as câmaras de filmar de 16 mm – as Paillard – e a chamada ‘equipa da Rainha’, onde constavam nomes como Baptista Rosa, Hélder Mendes, Augusto Cabrita e António da Cunha Telles, e outros, e a RTP não teria conseguido realizar esse ‘milagre’ que foi o acompanhamento passo a passo da visita da Rainha ao longo de cerca de 63 horas de emissões, com o ponto alto no dia 23, com hora e meia de reportagem.  Pode-se reconhecer que as ‘emissões da Rainha’, tendo sido uma verdadeira manifestação de empenho e profissionalismo, acabaram por constituir um estímulo para o grande desafio que viria com as emissões regulares de televisão”.

Este trabalho de investigação foi publicado em livro, três anos mais tarde, pela Editorial Presença, sob o título Salazar, Caetano e a Televisão Portuguesa.

Legenda da imagem: desembarque em Lisboa de Isabel II no bergantim real que outrora servira o casamento de D. João VI e D. Carlota Joaquina, em 1785. Foi recebida pelo Presidente da República, Craveiro Lopes, e pelo Presidente do Conselho, Oliveira Salazar. Créditos: Museu da Presidência.

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