Construir uma cidade a Metro – Parte I

Sabia que o metropolitano de Lisboa começou a ser projetado no século XIX, quando esse novo meio de transporte começava a aparecer em cidades europeias? Mas apenas chegou à cidade quase um século depois. As obras colocaram Lisboa numa confusão e o subsolo estava à vista de todos.

Hoje é quase impossível imaginar a capital sem metropolitano: “Nos dias que correm, ninguém consegue conceber Lisboa sem Metro, de tal maneira ele alterou os nossos hábitos, se integrou no nosso quotidiano, se atravessa no nosso afadigado dia a dia”, escreve Maria Fernanda Rollo, investigadora no Instituto de História Contemporânea (IHC) da NOVA FCSH, no livro “Um metro e uma cidade” (ed. Metropolitano de Lisboa, E.P., 1999).

Tudo começou com a ideia de construir um caminho de ferro metropolitano no reinado de D. Luís, no século XIX. À época, poucas eram as cidades que detinham este sistema de transportes coletivo, o que conferia a Londres, Budapeste, Nova Iorque e Glasgow um estatuto especial por inaugurarem as suas linhas antes de 1900. Henrique de Lima e Cunha, engenheiro militar, foi o primeiro a apresentar um projeto para a capital portuguesa, a 5 de maio de 1888, que intitulou “Esboço de Traçado de um Caminho de Ferro Metropolitano de Lisboa”.

Mas não seria este projeto a vingar, como explica a investigadora: “O projeto não teve sequência. Vale pelo seu caráter pioneiro e pela visão prospetiva que o seu autor demonstra: o progresso da Urbe”. Apesar da cidade assistir a um período conturbado e não propício a grandes investimentos, a empresa Carris já tinha em circulação os seus elétricos. O primeiro elétrico estreou-se a 31 de agosto de 1901, no percurso entre o Terreiro do Paço a Belém e Algés.

A construção da linha do metropolitano em Lisboa ficou suspensa, mas com propostas ao longo das décadas da primeira metade do século XX. O momento certo apenas aconteceu na primavera de 1955, o ano que marcou o início das tímidas construções da primeira fase do metropolitano de Lisboa.

A cidade tinha um sistema de transportes congestionado e tentava equilibrar-se com o fenómeno do êxodo rural, refere Fernanda Rollo: “Nem sempre ou quase nunca esse crescimento se fez de forma planeada, procurando o equilíbrio entre novas manchas urbanas e a ligação com a Grande Cidade. Só os transportes colectivos e, entre eles, o metropolitano poderiam assegurar esse equilíbrio e introduzir um elemento de racionalização na vida e na massa urbana”.

As obras “tiveram início quase em simultâneo em várias zonas da cidade: na estação do Parque, que ficava nas traseiras do Pavilhão de Desportos; numa área em frente do Cinema de São Jorge, um pouco a norte da estação da Avenida; na Rotunda; na estação de São Sebastião; em Sete Rios”, aponta a investigadora.

As construções, o ruído e o caos um pouco por todo lado afetaram a vida dos lisboetas. A imprensa lisboeta, como o Diário de Lisboa e o Diário Popular, acompanhou este processo de maneira fervorosa. O que estava previsto estar completo em 1957 atrasou dois anos, finalizando-se pouco depois do natal de 1959, a poucos dias de uma nova década.

Fotografia: Escavações de um dos túneis do metro, em 1955 e 1956. Créditos: RTP

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Ana Sofia Paiva
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