Construir uma cidade a Metro – Parte IV

A imensa obra do metropolitano de Lisboa desencadeou acidentes que tiveram repercussão na vida da cidade. Uns foram pouco graves, outro teve um final trágico.

Corria o ano de 1955 e as obras do metropolitano já tinham exposto o subsolo de Lisboa em várias partes da cidade. Foi em março desse ano que o primeiro incidente do metro aconteceu, na zona do Rossio. Uma sondagem que deveria demorar quinze minutos por dois funcionários, acabou por se revelar mais do que isso.

Os dois funcionários perderam-se na labiríntica rede de esgotos da cidade e apenas foram localizados duas horas mais tarde. A “enorme multidão que se juntara junto ao Hotel Metrópole respira de alívio quando os dois operários conseguiram regressar à superfície ajudados pelos Sapadores. Houve abraços, felicitações e lágrimas”, reporta o Correio dos Açores, a 12 de março de 1955. Este é um dos momentos que Maria Fernanda Rollo, investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC) da NOVA FCSH, evoca no livro “Um metro e uma cidade” (Ed. Metropolitano, E.P., 1999).

No mesmo ano, a 26 de agosto, alguns operários ficaram feridos nas escavações da Avenida Fontes Pereira de Melo junto à Rotunda do Marquês de Pombal, como noticiou o Diário Popular. Contudo,  as obras no metropolitano de Lisboa prosseguiram num ritmo mais acelerado principalmente no que dizia respeito ao acabamento das obras da Avenida da Liberdade para a passagem da Rainha Isabel II de Inglaterra, que visitaria a cidade entre 18 e 23 de fevereiro de 1957.

Concluída a primeira fase do metro  em 1959, nos anos seguintes iniciaram-se as escavações para expandir a rede. A 30 de dezembro de 1970, noticiou o Diário de Notícias, caiu um automóvel na vala aberta nas obras da Avenida Almirante Reis com a Alameda D. Afonso Henriques. Não se registaram feridos, contudo.

Cinco anos depois, a 9 de abril de 1975, dá-se o primeiro descarrilamento de uma composição do metro entre as estações do Rossio e de Restauradores. O Diário de Notícias narra o acidente, na notícia publicada a 10 de abril: “às 7.36, uma composição que acabava de sair da estação do Rossio, em direcção a Entrecampos, teve de interromper a sua marcha dado o facto de o primeiro “boggie” (conjunto do rodado) da segunda carruagem ter saído dos carris, por avaria técnica, flectindo para o lado esquerdo”. A circulação só ficou normalizada 11 horas depois, pouco depois das 18 horas.

Não houve feridos a registar porque, como a notícia explica, o condutor “manteve os passageiros encerrados nas carruagens, dados os perigos que a forte tensão (de mil volts) poderia acarretar àqueles que saíssem sem a energia da linha estar completamente interrompida”. Os passageiros conseguiram sair depois de ser encerrada a corrente elétrica e caminharam pela linha do metro até à estação do Rossio.

No mês a seguir, a 25 de maio, ardeu uma composição de quatro carruagens entre a estação da Alameda e a de Arroios, aponta a investigadora. Ninguém ficou ferido e a estação da Alameda acabaria por ser reestruturada mais tarde. Contudo, a mesma parecia estar destinada a outro incêndio, desta vez mais grave.

Na madrugada de 17 de outubro de 1997, a Alameda D. Afonso Henriques acordou com chamas que destruiram completamente a estação e provocaram duas mortes. A estação estava fora de serviço devido às obras da linha do Oriente, o que fez duvidar a opinião pública sobre a construção dessa linha em tempo útil da Expo 98. Apesar desta hesitação, a estação da Alameda surge de cara renovada e a linha vermelha foi terminada em 1998, a tempo da Exposição Mundial.

Fotografia: Dois bombeiros com máscaras de oxigénio a sair da estação da Alameda. Créditos: Inácio Rosa/LUSA

Escrito por
Ana Sofia Paiva
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