A 30 de janeiro de 1967, o Diário Popular referia na capa o êxito da minissaia entre as clientes adolescentes de uma loja emblemática na Rua da Vitória, na Baixa: a Porfírios–Contraste. Uma investigadora da NOVA FCSH analisa o impacto do vestuário na construção do género de uma faixa etária ainda mais baixa: a infantil.
A relação do vestuário e a definição dos géneros masculino/feminino é histórica. As maiores mudanças na silhueta feminina estiveram ligadas a períodos de lutas feministas: nos anos de 1920, o abandono do espartilho foi símbolo da libertação da mulher; nos anos de 1960, a mulher procurou afirmar o seu corpo na famosa minissaia.
Nos últimos anos, a roupa genderizada foi perdendo a consistência, emergindo a roupa unissexo, mas a diferenciação mantém-se, observa Ana Patrícia Teófilo na sua tese de mestrado (2010) em Estudos sobre as Mulheres da NOVA FCSH. Ainda hoje se usa, por exemplo, o cor de rosa e o azul como códigos para diferenciar os bebés do sexo feminino dos do sexo masculino. Este foi um dos pontos de partida para a sua investigação: de que forma é que os pais podem salientar ou reduzir o género das suas crianças através das peças de vestuário infantil que escolhem?
A investigadora selecionou uma amostra do meio burguês urbano das cidades de Lisboa e do Porto e chegou à conclusão de que os pais – principalmente as mães – ainda vestem os seus filhos de acordo com os estereótipos de género construídos socialmente.
Nos rapazes, prevalecem os azuis, verdes, castanhos e laranjas; as calças, os fatos de treino, bonés, calções e ténis têm imagens de carros, animais e super heróis; as riscas e o xadrez são os padrões mais escolhidos. Na meninas, a escolha é muito mais diversificada, mas impera o imaginário feminino: vestidos, saias rodadas ou evasé, com flores, borboletas, bolinhas e riscas; abundam as imagens das princesas da Disney ou da Hello Kitty; há lugar a acessórios, como fitas, bandoletes, ganchos de cabelo, cintos, colares e pulseiras.
Legenda da imagem em destaque: anúncio publicitário da linha de vestuário de Mary Quant, criadora da minissaia (anos de 1960).