Como foi vivida a I Guerra Mundial em Lisboa? Escassez de alimentos, aumento da inflação e fábricas a fechar foram as consequências de um conflito que custou muito mais do que quatro anos à população de Lisboa e do país.
Nos anos que antecederam a I Guerra Mundial, a região de Lisboa sofria com “dores de crescimento”: enquanto na capital as Avenidas Novas cresciam como espaço privilegiado da burguesia e se multiplicavam os cafés no Chiado, as estruturas urbanas, como a rede de esgotos, não davam resposta aos quase 500 mil habitantes do distrito – a população tinha duplicado entre 1878 e 1911.
Quando em julho de 1914 começa o conflito que iria redesenhar a ordem mundial, Portugal, e particularmente o distrito de Lisboa – que acolhia quase metade da população do país –, sofreram de imediato as consequências da guerra, afirma Ana Dâmaso Silva, na sua tese de mestrado em História Contemporânea da NOVA FCSH (2014).
A autora baseou-se na correspondência recebida e expedida do Governo Civil de Lisboa e do Ministério do Interior, em ordens de serviço da Guarda Nacional Republicana e na análise de jornais, como A Capital, para fazer o retrato dos anos da I Guerra Mundial na cidade, no seu distrito e no país.
O aumento da inflação e, consequentemente, dos preços levou a um aumento de crimes e transgressões. Em 1916, surgia nos registos de capturas do Arquivo Distrital de Lisboa uma nova categoria – a de “vadiagem” – praticada por crianças, jovens sem emprego e idosos, salienta a investigadora. Este aumento substancial dos mendigos levou à criação de asilos que estavam, no entanto, constantemente lotados.
“O esforço da mobilização e do mantimento de forças em combate, combinado com o esforço de subsistência no país, levaram a situações extremas de falta de alimentos e encerramento de fábricas por falta de materiais”, refere a autora. As vagas de doenças, como a gripe pneumónica, vieram agravar este quadro. Em face deste situação, “a luta contra a guerra tornava-se secundária”.
Fotografia: Praça do Comércio durante a organização do cortejo que foi saudar o Chefe de Estado e as legações estrangeiras pela vitória dos aliados na Primeira Guerra Mundial (Joshua Benoliel, 1918, AML)