É mais conhecido pelo seu trabalho como cineasta, mas foi jornalista, crítico, fotógrafo, ilustrador e escritor, entre muitos outros ofícios. De perfil modernista, José Leitão de Barros introduziu o que são hoje tradições lisboetas: as marchas populares e a Feira Popular.
Insaciável por conhecimento e entusiasta das novas tecnologias, José Leitão de Barros foi pioneiro em diversas áreas da cultura. Entre muitos ofícios que desempenhou, o interesse pelo jornalismo durou até ao fim da sua vida, afirma Afonso Pinto na sua tese de doutoramento em História da Arte Contemporânea (2015) da NOVA FCSH.
Da entrega ao jornalismo, Leitão de Barros fundou, em 1925, a revista O Domingo Ilustrado, com Jaime Martins Barata. Esta revista distinguia-se das restantes porque era composta por uma equipa “de elite” e se debruçava sobre os aspetos sociais e culturais da cidade. Foi a “revolta do Rato”, em 1927, que marcou uma mudança necessária para a revista, aponta o investigador. Passou a intitular-se O Notícias Ilustrado e foi pioneiro na conceção de fotorreportagens e fotomontagens, uma “grande novidade”, à época, para uma revista.
E é esta publicação que introduz as festividades anuais das marchas populares em Lisboa. Leitão de Barros participava ativamente na vida social e partiu dele a implementação de “umas marchas populares para Lisboa, momento determinante para o processo de folclorização do país” em 1932, afirma Afonso Pinto. Esta ideia acabou por ser apropriada pela Câmara Municipal de Lisboa, para modernizar as festas da cidade. Em 1934, o cineasta organizou um cortejo que iria ficar para a história das marchas populares, à semelhança do ano a seguir. Mais tarde, em 1947, concebe um corso temático focado na cidade, aponta o investigador.
Ao jornalista e cineasta também se deve a criação da Feira Popular, em 1943, e da Feira da Estrela, em 1953. No mesmo ano, são da sua responsabilidade as crónicas Os Corvos, ilustradas por João Abel Manta e publicadas no jornal Diário de Notícias. Leitão de Barros foi também pioneiro noutras áreas, como o som.
A Tobis Klangfilm Portugal foi o estúdio sonoro que, na década de 1930, Leitão de Barros fundou no então periférico bairro do Lumiar. Desta forma, o país foi dado a conhecer de maneira “artística e propagandística”, explica o investigador. É então que surge o primeiro filme sonoro em Portugal, A Severa (1931), baseado na peça de Júlio de Dantas.
Os filmes Maria do Mar (1930), As Pupilas do Senhor Reitor (1935) e Ala Arriba (1942) deram “seguimento ao processo de folclorização do país”. Destacam-se, ainda, outros filmes históricos como Maria Papoila (1937), Varanda dos Rouxinóis (1938) e Vendaval Maravilhoso (1947), onde participou Amália Rodrigues.
A Exposição do Mundo Português, em 1940, foi outro acontecimento que marcou o Estado Novo e também a obra do artista. Leitão de Barros foi uma das figuras que idealizou o Padrão dos Descobrimentos, em Belém, mas preferiu não lhe atribuir autoria. Afonso Pinto afirma que Leitão de Barros preferiu ficar conhecido pelos trabalhos da Nau Portugal e pelo álbum fotográfico Portugal 1940.
Uma vasta obra e fervilhantes décadas de produção marcaram a vida deste homem, desde a aguarela ao cinema, passando pelo ensino e arquitetura. Do seu repertório, ainda se destacam as “novas soluções técnicas e cenográficas” introduzidas no teatro, únicas em Portugal, as entrevistas a António de Oliveira Salazar, entre 1938 e 1950, e à Rainha Dona Amélia para o jornal O Século, entre 1938 e 1951, ou a organização da receção à Rainha Isabel II de Inglaterra, em 1957. Aos 79 anos, viria a falecer na sua sempre cidade, em 1976.
Fotografia: José Leitão Barros (Fonte: Expresso)