À mesa do rei no século XVI

Muita carne, principalmente de vaca, pouco peixe e raramente fresco, quase nada de frutas nem de legumes. Assim se comia à mesa do rei, na Lisboa do século XVI.

A comida da corte real do século XVI é sinónimo de luxo, fartura e hierarquia. Ana Isabel Buescu, historiadora da NOVA FCSH, reúne neste artigo de 2013 alguns exemplos do que se comia à mesa do rei e no quotidiano da corte.

A mesa de D. João III (1502-1557) privilegiava a carne, segundo um livro de cozinha do rei. Só em 1524 entraram na ucharia régia (a despensa da corte) três toneladas de carne de vaca e meia tonelada de porco. O carneiro, a galinha e a perdiz também eram consumidos com frequência. Já o peixe era mais raro, sobretudo seco, fumado ou salgado. Quanto a fruta e legumes, nem vê-los.

Vinho e pão faziam parte do quotidiano da corte real e da população em geral, simbolizando a mesa eucarística. O vinho tinha lugar destacado em festas e celebrações públicas, como na solene entrada régia em Lisboa de D. Manuel com D. Leonor de Áustria, em 1521. “Duas grandes construções com a forma de figuras femininas metidas em grandes tinas até à cintura lançavam dos peitos túrgidos e nus abundante vinho tinto e branco, que caía noutras tinas perto do chão; junto delas muitas escudelas de pau encontravam-se à disposição de quantos queriam”, descreve a investigadora do Centro de História D’ Aquem e D’ Além Mar (CHAM), da NOVA FCSH.

Outros produtos, como o açúcar, o tomate, o chocolate, a batata e o ananás, provenientes do Oriente e das Américas, iam mudando os hábitos alimentares da corte. Em 1565, a rainha D. Catarina oferece um banquete no paço da Ribeira a nobres estrangeiros, privilegiando os alimentos exóticos e novos em Lisboa.

No quotidiano, as refeições mais importantes eram o jantar, tomado ao meio dia, e a ceia, a refeição da noite. O almoço tinha um lugar secundário (o atual pequeno-almoço) e a merenda era ocasional, associada a momentos de lazer, como os passeios de barco de D. Manuel, que merendava frutas verdes, conservas, “cousas de açúcar”, vinho e água.

Escrito por
Dora Santos Silva

Professora do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH. Coordenadora editorial do +Lisboa.

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