O Jazz lisboeta nos anos 20: o que se mostrava (ou não) no Diário de Lisboa

Enquanto toda a Europa se rendia ao Jazz depois da primeira Guerra Mundial, e os loucos anos 20 se deixavam influenciar pelo estilo musical afro-americano, Lisboa recebia-o como um símbolo de modernidade e cosmopolitismo, mas com muita resistência pela imprensa.

O jazz chega a Lisboa, numa altura em que a cidade acompanhava a oferta cultural das principais capitais da Europa, nessa altura, o Jazz chega à cidade. Era presença habitual nos principais espaços de diversão noturna, como clubes, hotéis, restaurantes e até sociedades de bairro.

No entanto, a investigadora Mariana Calado, que analisou a forma como o jazz e as jazz-bands são referidas no Diário de Lisboa na década de 1920, um jornal de referência na cultura, revela uma faceta curiosa: pouca ou nenhuma cobertura jornalística era dada a este estilo musical. A qualidade musical das Jazz-bands eram referenciadas maioritariamente nos anúncios publicitários como forma de conquistar os clientes para refeições com a promessa de muita animação.

Sem uma única critica musical, o Jazz vai-se assumindo não como um estilo musical, mas como uma forma de divertimento associado ao perfil alegre, livre, moderno que contrastava com a os formatos musicais europeus, delicados e lineares.

A partir das referências a jazz nas notícias e anúncios recolhidos, a investigadora reconstruiu a paisagem sonora de Lisboa: as “Jazz-bands” apresentavam-se no Ritz Club ou no Parque Mayer, asseguravam a boémia e a oferta musical dos clubes lisboetas do eixo Avenida da Liberdade, Restauradores, Chiado e Hotéis do Estoril da época, frequentados por estrangeiros, alta sociedade, artistas, jornalistas e burguesia da cidade.

“O destaque que a publicidade dá à presença das jazz-band evidencia o papel que estas tinham na atração de clientela para os estabelecimentos, porém, os dados são insuficientes para formar um perfil das formações, sendo poucos os textos de publicidade ou de notícias que identificam o nome da orquestra ou dos seus músicos”, explica a investigadora no texto.

Mariana Calado identifica também uma diferença entre as referências às jazz-bands nos anúncios ou notícias e os comentários sobre jazz em artigos: “por um lado, os termos em que as jazz-band são anunciadas transmitem uma boa experiência da fruição da música, por outro, os breves comentários e opiniões sobre jazz difundem uma visão negativa da prática e escuta do jazz e de todo o ambiente a ele associado”, explica.

Para a investigadora, esta ausência do jazz das secções de crítica pode ser percebida “tendo em conta a natureza do jazz e a natureza do próprio jornal”. O jazz poderia não ser ainda entendido como obra de arte, mas a falta de conhecimento dos músicos que formavam as jazz-bands poderá ter condicionado os críticos de música.

Imagem: detalhe do tríptico Metropolis de Otto dix (1927-1928)

Escrito por
Sara Simões

Estudante da Pós-Graduação em Comunicação de Cultura e Indústrias Criativas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCSH)

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